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Virgilio Virgílio de Souza

A magia do Camisa dez

Num momento em que o mundo ora por Pelé, o maior 10 de todos os tempos, que aos 80 anos, se recupera de um câncer, Leonel Messi e Kylian Mbappé, ao mesmo tempo que lutam por um inédito tri campeonato por seus países, carregam a responsabilidade de manter viva magia e a mística da camisa, que se transformou no símbolo de encantamento do futebol


Mais uma Copa de encerra e mais uma vez permanece no ar a mística do Camisa Dez. Não importa as cores do país, da bandeira, ou o esquema adotado pelo treinador, recai sobre o número dez fazer a diferença, proporcionar a explosão de delírio, de êxtase. Sim, eles são os verdadeiros portadores do inesperado, do improvável. Deles, esperamos a genialidade, a jogada desconcertante, a explosão do gol que faz a magia do futebol

São eles, que proporcionam que o povo dos quatro cantos do planeta, um momento de orgasmo total, de delírio colossal. Parecem ungidos. Pessoas que quando nasceram receberam a missão de espalhar emoção - transcendência.

Não se sabe por parte de quem e quando lhes foi atribuída tal responsabilidade, tal destino, mas parece uma sina carregar nas costas essa camisa mágica, que por frações de segundos, de instantes, faz o mundo um pouco mais feliz. Fazem sair da garganta o grito de gol. Fazem os olhos brilharem de tanto encantamento

Há um pacto não escrito, mas que todos sabem que existe de que o “dez” é o maestro, o bailarino, o menino que nos faz delirar, nos faz orgulhar do futebol e soltar o grito contido na garganta em razão das muitas mazelas cotidianas. É uma guerra aqui, um ditador ali, uma ditadura estabelecida acolá e candidatos a tiranos-genocidas em muitas partes do mundo. O “dez” como uma entidade, nos faz esquecer tudo isso. Seria a magia do dez o ópio do povo?


Totti, da Itália, Maradona da Argentina e Pratini, da França nomes que marcaram a história do futebol


Na vida e dentro de campo, ser dez é para poucos, é como uma iluminação - definitivamente não é pra qualquer um. Além dos gols, dos dribles desconcertantes, da genialidade da jogada, há muita malícia, perspicácia, malemolência no corpo, no jeito de corpo... No jeito de ser...

Uns vibram no momento do gol dando um soco no ar, para no momento seguinte, desferir uma cotovelada fulminante no queixo do cruel marcador que só sabe bater.

Há aqueles que desequilibram uma partida, comandam o time, para na partida seguinte, dar uma cabeçada no nariz do adversário que só faz ofender.

Como não esquecer de outros que numa mesma partida usam os pés para dribles desconcertantes, fazer fila na defesa adversária, para no momento seguinte, usar a “mão de Deus”, enganar o juiz, todo o estádio e decidir mais uma vez.

Camisa esquisita e cercada de mistério. Existem jogadores que encantam em seus clubes, são ídolos, deixam a torcida em êxtase, mas quando são convocados para mostrar a mesma destreza na seleção, viram verdadeiros amarelões.

O italiano Roberto Baggio, o brasileiro Ronaldinho Gaúcho e o alemão Lottar Mattaus foram motivo de encantamento para seus países


Um verdadeiro, dez não é menino mimado, derruba os adversários com dribles desconcertantes e sai sorrindo, e não vive caindo e fazendo encenações. Dez que cai é dez caído.

Difícil falar do Dez, definir o Dez. É obra de Deus. Tem a intuição, o discernimento de que não é uma celebridade e apenas um ídolo e que idolatria e fama tem data de vencimento. Sabe que não ficará reconhecido por suas poesias, por suas canções e letras e muito menos pelos filmes que fez, mas sim por sua trajetória que pode ser curta e durar apenas uma Copa, mas poderá, apesar dessa curta trajetória, ter o respeito dos amantes do futebol e sempre serem referenciados com carinho e respeito. Tem que estar atento, pois sempre há outro dez pedindo passagem.


Sadio Mane, Senegal, Zidane da França e Mohamed Salah do Egito nomes que o mundo aprendeu a respeitar


Apesar de vivermos dias politicamente corretos, o torcedor é cúmplice do dez, por isso, finge que não vê onde mete o nariz, se ignora a filha que não quis assumir ou se vive em baladas. O que o estádio, o torcedor, o país esperam do dez, além de sua genialidade, é comprometimento, entrega. Que seja um forte dentre de campo, mesmo sendo um fracassado existencialmente.

O torcedor é indiferente se o dez expõe as companheiras com as quais se relaciona para se mostrar um pegador, se enche a orelha de brincos e o corpo de tatuagens e outros balangandãs para ostentar. Não quer também saber se deu calote no Imposto de Renda, se pinta o cabelinho de amarelo, se come bife banhado a ouro ou use fone de ouvido com pedrinhas de diamantes. O torcedor quer do dez apenas que seja dez, que jogue direito.


O croata Luka Modric que disputou sua última copa no Catar, Rivaldo que fez história pelo Brasil e Ferenc Puskás, considerado o maior craque que a hungria já produziu ficaram eternizados por suas jogadas geniais


Em campo o dez é um deus. Não importa a harmonia e a cadência da equipe, dentro das quatro linhas recai sobre o camisa dez a responsabilidade de ser o imã, o xamã, o que acende a chama do encanto do futebol. Ao seu redor, todos parecem coadjuvantes. Não está escrito em lugar nenhum, mas parece haver uma lei universal que diz: se o dez vai bem, tudo vai bem. A magia do dez é obra de Deus

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