AMAST convoca Assembleia Geral para as próximas eleições
- Virgilio Virgílio de Souza
- 28 de jun. de 2021
- 8 min de leitura
Entrevista com Paulo Oscar Saad
presidente da entidade

Assembleia Geral Extraordinária
Processo Eleitoral 2021-2023
Edital de Convocação aos Associados
O presidente da AMAST - Associação de Moradores e Amigos de Santa Teresa - considerando as normas estatutárias, especialmente as que orientam os processos eleitorais, e levando em conta a situação especial em que nos encontramos, na qual nos são impostas regras sanitárias restritas de proteção a vida, bem como protocolos de afastamento social, em cumprimento a decisão da Diretoria em reunião de 15 de junho p.p., vem convocar OS ASSOCIADOS para a ASSEMBLEIA GERAL EXTRAORDINARIA – AGE DE INSTALACAO DO PROCESSO ELEITORAL 2021-2023, que ocorrerá de forma on line, por plataforma virtual GMeet, no dia 12 de julho de 2021 as 19h.
O código de acesso dos associados a AGE será informado aos associados 1 (uma) hora antes, às 18h, pela página da AMAST na rede Facebook, por mensagens de email, e nos grupos de whatsapp relativos ao bairro, e, nos quais participam os diretores da AMAST.
Pauta:
1. Questões relativas ao funcionamento da AMAST durante a corrente pandemia da Covid 19;
2. Definição do Calendário Eleitoral;
3. Condições para a realização das Eleições;
4. Eleição da Comissão Eleitoral.
Santa Teresa, 23 de junho de 2021
Paulo Oscar Saad, Presidente da AMAST
Entrevista
Paulo Saad presidente da AMAST fala
de aglomeração, pandemia,
turistificação e privatização
do sistema dos bondes
Santa Teresa é de longe um dos bairros mais tradicionais e peculiares da cidade. Com seu
ritmo próprio ditado pela velocidade dos centenários bondinhos, suas soleiras, ladeiras e portais são para muitos um bairro que se parece com uma cidade do interior no meio do Rio de Janeiro. Mas apesar dessa tranquilidade o bairro onde residem muitos artistas, músicos, poetas e profissionais liberais sofre com seus muitos problemas.
Dois deles parecem eternos: o desejo desenfreado de nossos governantes em privatizar o sistema de bondes e o poder do capital que deseja “modernizar” o bairro com a construção de hotéis, pousadas e atividades comerciais. A exemplo da cidade, do país e do mundo, o bairro cercado por muitas favelas também tem sofrido com os efeitos da pandemia.
Para entender um pouco mais como a comunidade tem enfrentado esses dilemas, entrevistamos Paulo Oscar Saad, presidente da AMAST – Associação de Moradores de Santa Teresa -, que gentilmente concordou em falar como Santa Teresa tem enfrentado diante desses problemas.
Saad como é conhecido por todos, é um guerreiro pelas causas sociais, arquitetônicas e urbanísticas e uma pessoa totalmente envolvida e apaixonada por Santa Teresa e pelo Rio de Janeiro. Arquiteto e urbanista, formado pela FAUUFRJ e pela COPPE é servidor estadual e trabalhou nas prefeituras do Rio e de São Paulo e na equipe do Ministério das Cidades.
Atuou por muitos anos em projetos e obras de habitação social, transportes públicos, planejamento urbano, patrimônio cultural e proteção ambiental. Foi professor de projetos na EAU-UFF, presidente do SARJ, vice-presidente nacional do CAU e presidente da Sebastiana – que congrega os principais blocos do Centro e Zona Sul. . Exerce as funções de presidente da AMAST, diretor da FAMRIO, conselheiro do SARJ, do CAURJ, do CC do PNT, e de diretor da bateria do Bloco da Carmelita.
Entrevista após o anúncio

Capital Cultural – O bairro viveu dias agitados e de muita indignação com o denominado “Coronabloco”, que fez uma desfile no último dia 19, no Largo do Guimarães, que incomodou muito os vizinhos. Como a AMAST reagiu a isso?

Saad – Pelo que percebi o bairro como um todo - moradores, blocos de carnaval e as associações representativas dos moradores e dos comerciantes – repudiaram o ocorrido. A revolta é natural, pois as pessoas se sentem invadidas. Quem promove esse tipo de baderna e algazarra, não têm qualquer identidade com o bairro e se acha no direito de perturbar a ordem e desrespeitar os vizinhos. Muitos moradores procuraram a AMAST, reclamaram de forma indignada e estamos aqui para orientá-los. Enquanto Associação e respaldada pelos moradores, podemos exigir das autoridades responsáveis providências contra esse tipo de situação. O que precisa ficar claro, é que isso não é um caso isolado e que esses tipos de investidas contra o bairro, são é recorrentes, quer seja por parte de alguns proprietários de restaurantes ou iniciativas de outras natureza, por parte de pessoas endinheiradas que querem construir de forma desenfreada e encherem o bairro de pousadas e outros estabelecimentos comerciais sem respeitar as características do bairro. Essas pessoas são totalmente alienígenas, chegam com a proposta de uma pseudo-modernização e tentam impor um outro ritmo e uma nova dinâmica. Já vimos isso várias vezes e em diversos momentos. Uns defendem a flexibilização da APA – Área de Patrimônio Ambiental –, outros desejam ver ruas fechadas, e há aqueles que querem construir e descaracterizar o casario propondo obras moderninhas. Se esquecem que o bairro é antes de tudo e acima de tudo histórico, cultural e residencial. A AMAST repudia total e completamente qualquer iniciativa que interfira na paz e tranquilidade dos moradores. Santa Teresa não pode ser o quintal de aventureiros que agem através da exploração imobiliária ou comerciantes que queiram transformar o bairro em algo moderninho para faturarem em cima disso.
Capital Cultural – Baixo Gávea, Praça São Salvador (Laranjeiras) e Lapa são exemplo desse descompasso entre o desejo dos moradores e a ação de comerciantes gananciosos e investidores imobiliários sem disciplina. Você teme que Santa Teresa passe por um processo parecido?
Saad – Lutamos exatamente contra isso. Eu e muitos moradores, diria até, que a grande maioria dos moradores somos contrários a essa descaracterização do bairro. Sempre existem essas investidas sobre Santa Teresa. Pessoas que se dizem de bem, que se dizem moderninhas e querem de alguma forma dinamizar, com o argumento de que precisamos fazer com que o bairro fique mais atraente. Santa Teresa é aconchegante e atraente por si só, não precisa de festinhas e feiras no meio da rua para ser mais atrativo. Não precisa de pousadas sofisticadas que promovem festas madrugada adentro. O interesse dessa gente é um só: faturar, ganhar dinheiro, nem que seja em cima da perturbação dos vizinhos. Santa Teresa é um bairro ondem residem muitos artistas músicos, com blocos de excelente qualidade e como pode um grupo de músicos desafinados invadir uma rua e perturbar todo mundo. A informação que tenho é que os caras tocavam mal, eram totalmente desafinados e conseguiram a adesão de pessoas que não moram no bairro. As pessoas que vieram para Santa Teresa, vieram exatamente em razão de sua tranquilidade e suas características.
Capital Cultural – Você é presidente de uma das associações mais influentes e atuantes na cidade. Pela sua percepção de que maneira a pandemia atingiu ao bairro, tanto em relação aos moradores quanto aos comerciantes?
Saad - Os moradores de Santa Teresa e a nossa AMAST têm resistido às perdas de qualidade de vida no nosso bairro residencial, e isso tem a ver com o descaso dos governantes com os serviços públicos. Há muito lutamos pela garantia dos serviços de Saúde Pública e contra o desmonte do SUS. O bairro vem sofrendo muito com a pandemia e suas consequências. Doenças na família, sofrimento e mortes de amigos, pais e filhos, transportes precários e lotados, desemprego, pobreza e fome, angustia e medo. Sofremos com a decepção permanente de governos incompetentes e corruptos. A falta do auxílio emergencial e do apoio financeiro aos comerciantes fez tudo mais difícil. Os desmatadores e construtores irregulares estão passando a boiada nas nossas encostas. Pousadas realizaram festas proibidas por pura ganância. Alguns bares às vezes se comportaram como se não houvesse pandemia. Apesar de tudo isso, a imensa maioria os moradores se mostraram responsáveis, preocupados e solidários. A campanha de doações para as famílias das comunidades ajudou bastante e esperamos que esteja sendo retomada por que a fome se faz presente e os moradores com mais dificuldades só põem contar com essa solidariedade.
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Capital Cultural – Santa Teresa é um bairro histórico, cultural e que nos últimos anos vendo muito cobiçado pela exploração imobiliária visando transformar antigos casarões em hotéis, pousadas e mesmo em espaços comerciais. Como lidar com isso?
Saad - Todas as atividades econômicas diminuíram na pandemia. A economia do turismo e uma opção arriscada. Sua sazonalidade e inconstância são bem conhecidas. Não devemos priorizar isso. O turismo de massa destrói lugares, destrói culturas, forca o mecanismo perverso de “expulsão/sucessão” dos moradores, acelera a desigualdade e a exploração, seja imobiliária ou comercial. Já o turismo de base comunitária pode servir a sustentabilidade sócio-ambiental local e a única opção aceita. Não podemos definir a vocação de um bairro de cima para baixo. Em um bairro residencial há lugar sim para residências provisórias, cama/café e pousadas, não para hotéis e clubes/casas de festas. Há lugar para restaurantes simples com características locais para visitantes interessados em história, cultura e meio-ambiente.
Capital Cultural – A mercantilização se tornou um de nossos maiores problemas?
Saad - Penso que o incentivo à mercantilização da cidade tem sido o maior erro dos governantes, que se tornaram despachantes de empresas, afastando de si suas responsabilidades públicas. A cidade não e um negócio. A cidade e, sobretudo, onde as famílias moram. Ignorar isso é destruir a cidade e a cultura. Quem mora no bairro, quer tranquilidade, boa infraestrutura, arquitetura, identidade, encontros para viver a cultura. Os usos e atividades têm que ser compatíveis entre si. A transformação dos casarões em multi-familiares é desejável. Mas temos que limitar o uso comercial a “capacidade de carga” da nossa Área de Proteção Ambiental – APA. Esta lei reconheceu o bairro como uma unidade de conservação em 1984 e precisa ser respeitada. Santa Teresa é o bonde popular, seu casario, seu mobiliário urbano, seus quintais e suas encostas, mas sobretudo a sua gente. A exploração imobiliária e comercial retira do bairro as características do bairro e quem fez e faz o bairro. A modernidade como pretexto para negócios e baseada em um mito. Sempre fomos modernos, modestamente. Tudo o que existe e se fala de Santa Teresa foi construído e mantido por seus moradores, seja o bonde popular, os casarões, a praça, a arborização urbana, o colégio estadual, os ateliês de arte, os centros culturais, os grupos musicais, as festas juninas, os blocos de carnaval, etc. Que os empresários gananciosos e os seus corretores, os governantes, tenham em mente que a cultura e sempre um cristal raro. Qualquer manejo temerário pode destruí-la.
Capital Cultural – Os moradores sempre se organizaram e se manifestaram contra a tentativa de privatização dos bondes, assim aconteceu nos governos Garotinho, Rosinha, Sergio Cabral. Agora, o governador Cláudio Castro solicitou um estudo para a privatização dos bondes. Como organizar num tempo de pandemia e isolamento? Quais as ações a AMAST pretende realizar?

- Mais uma vez temos que lutar contra a extinção do bonde. Para os governantes, desde de Garotinho o bonde popular, principal meio de transporte dos moradores de Santa Teresa e do povo carioca, não e uma reivindicação que queiram atender. Temos uma sentença judicial que obriga o Estado a restaurar todo o sistema do bonde. Descumprem a sentença descaradamente. Para se ter uma ideia, no ultimo enfrentamento contra Pezão e a SETRANS, foi feita obra parcial, não fizeram a via permanente de trilhos e a rede aérea para o Largo das Neves, não trouxeram os 14 novos-bondes, não restauraram os 7 bondes originais que estão na oficina e não contrataram motorneiros, mecânicos e eletricistas, e outros funcionários em número suficiente. A coexistência com o passeio turístico, de ida e volta, retira os poucos assentos disponíveis de quem precisa deles para ganhar a vida. O serviço é precário e não conseguimos que cumpram a sentença e já querem privatizar para dar ao bonde uma destinação turística definitiva, através de uma PPP – Parceria Público Privada - envolvendo negócios com agências de turismo e com o trem do corcovado, deixando de lado o serviço de transporte universal. O governo do bolsonarista Claudio Castro e do atual secretário de transporte Delmo Pinho, que foi subsecretario de Júlio Lopes, o “assassino de Santa Teresa”, quer se livrar de todas as suas responsabilidades, com o povo daqui e de todos os lugares.
Capital Cultural - Como enfrentar tudo isso?
Saad - Vamos lutar contra este processo. O serviço público de transporte pelo bonde e viável, já estudamos e provamos isto. Queremos 21 bondes, rodando no bairro todo, para todos, das 5:30h as 24 horas, com intervalo de 5 min no centro do bairro, e 10 min nas pontas dos ramais, com todas as gratuidades funcionando a pleno, transportando idosos e estudantes, com a tarifa básica e a tarifa social, integrado aos sistemas municipal e estadual. Vamos falar com nossos amigos e apoiadores, nossos representantes, a ALERJ e a Câmara de Vereadores defender o bonde popular. Vamos trabalhar a mobilização dos moradores, apesar das dificuldades da pandemia. Se necessário vamos voltar ao Ministério Publico e judicializaremos a questão. Mas sempre observo que nossa principal arma contra tudo isso é o desejo dos moradores pela não privatização. Confio nessa força da comunidade.
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