Blocos e ambulantes contra elitização do carnaval
A MUCA - Movimento Unificado dos Camelôs -, se juntou ao "Ocupa Carnaval" em sinal de protesto contra a decisão do prefeito
Carnaval de rua é liberdade, alegria, espontaneidade e em meio a tudo isso, muita crítica e irreverência - não necessariamente nessa ordem.. A decisão do prefeito Eduardo Paes em liberar o carnaval das escolas de samba na Avenida Marques de Sapucaí e proibir o carnaval dos blocos — teve uma primeira resposta na noite desta quarta-feira (13). O recém criado movimento “Ocupa Carnaval” com a participação de representantes de muitos blocos vindos de diversas partes da cidade, realizou um desfile-protesto entre a Candelária e a Cinelândia para demonstrar a insatisfação contra a decisão do prefeito.
Na opinião da maioria, a decisão de realizar o carnaval apenas na Sapucaí, conforme determinado visa apenas, a realização uma festa elitista, segregacionista, para turistas e uma parcela da sociedade com maior poder aquisitivo. Insatisfeitos com a proibição do desfile dos blocos, o Movimento Ocupa Carnaval ganhou um importante aliado que são os ambulantes da cidade. De forma muito organizada eles participaram do desfile e puderam vender tranquilamente seus produtos.
O desfile que teve concentração na Candelária, por volta das 17h, aconteceu na Avenida Rio Branco, entre 18h30 e 22h, e foi extremamente tranquilo. A Polícia Militar acompanhou todo trajeto e ajudou a organizar não só o desfile, como manteve ordenado o trânsito no Centro. Tanto na Candelária quanto na Cinelândia, as palavras de ordem dos organizadores era uma só: “a rua não pertence ao prefeito ou a empresas de cervejas que querem monopolizar o carnaval. A rua pertence aos cidadãos e por amarmos o carnaval vamos ocupar as ruas”.
O Manifesto Ocupa Carnaval
Os blocos decidiram agir contra uma determinação, que consideram insana do prefeito Eduardo Paes. Nesse sentido, mais de 140 blocos e movimentos ligados ao carnaval de rua assinaram um manifesto contra a decisão da prefeitura de não permitir os blocos de desfilarem no denominado “carnaval fora de época” que acontecerá entre os dias 21 e 23 abril. As agremiações, lideradas pelo “Ocupa Carnaval”, afirmam que, assim como foram permitidos os desfiles da Sapucaí, os blocos também têm o direito de ocupar as ruas por lei.
Até a noite desta terça-feira (12), blocos tradicionais como o Simpatia é Quase Amor, Cordão da Bola Preta, Céu na Terra, Cordão do Boitatá, Sinfônica Ambulante e Orquestra Sinfônica haviam assinado o documento. O desfile que aconteceu nessa quarta já foi uma inciativa do movimento. Outros desfiles nesse sentido devem acontecer. Tomas Ramos, um dos organizadores do coletivo, argumenta que “o que está ocorrendo é um silenciamento do carnaval de rua”.
— No dia 3 de janeiro, quando ainda havia a preocupação com a variante Ômicron, a principal patrocinadora do carnaval de rua notificou a prefeitura que definisse se haveria ou não a festa. No dia seguinte, o prefeito anunciou o cancelamento dos blocos sem apresentar um plano B. Independentemente do interesse comercial de empresas patrocinadoras, é dever da prefeitura apoiar e incentivar o carnaval, conforme artigo 338 da Lei Orgânica do Município. Cabe ao poder público garantir recursos e a infraestrutura urbana necessária para a manifestação acontecer. Não estamos pedindo nada, pois ocupar as ruas já é um direito nosso. Se os blocos vão conseguir se organizar a tempo ou não, é outra história. O que não pode é haver repressão — afirma Ramos.
Kiko Horta fundador do Cordão do Boitatá, afirma que, apesar de ter assinado o manifesto, o bloco não conseguirá promover seu tradicional desfile na Praça Quinze:
— Sem planejamento, não conseguiremos desfilar, mas estamos buscando outras alternativas. Mesmo sem patrocínio, a prefeitura tem que valorizar o retorno financeiro dos blocos: a FGV estimou que, em 2018, o Boitatá sozinho movimentou R$ 28 milhões na economia da cidade — aponta.
A RioTur responsável pela organização do carnaval de rua do Rio, reitera que seguirá o cronograma de carnaval estabelecido pela prefeitura, onde não há previsão desfiles de blocos, visto que "não há tempo hábil para organizar o desfile dos blocos com a estrutura necessária". A prefeitura não respondeu se haverá alguma punição às agremiações que, eventualmente, decidirem desfilar.
No primeiro "desfile-protesto" -, muitos foliões foram para a rua pelo direito de desfilar. A tendência é um carnaval com muitos blocos clandestinos e, caso Eduardo Paes decida reprimir, é certo que acontecerão confrontos com a Guarda Municipal
Ambulantes na bronca
Quem também está na bronca com a decisão do prefeito são os ambulantes que se valem, principalmente, do período de carnaval e das grandes festas na cidade para trabalhar. Empurrando seus carrinhos embaixo de chuva ou de sol intenso, até por 12 horas durante o desfile dos blocos, para muitos o prefeito só pensa nos ricos. Essa, por exemplo, é a opinião de Dona Estela Marques que participou do desfile do “Ocupa Carnaval”.
— Moro em Cascadura - bairro ao lado de Madureira -, e o prefeito com essa história de ser portelense sempre aparece por lá. Ele vai na Surica – em referência à Tia Surica nome conhecido na Portela -, e só fala com a diretoria. Nós que ralamos aqui nas ruas, ele ignora completamente. Não fico vendendo cervejas e refrigerantes por que gosto. Faço isso para ajudar manter a família. O Prefeito tem que parar de governar só com os ricos e ficar obedecendo o que a AMBEV manda. Ele tem que se lembrar que não são os ricos que decidem a eleição e, por isso, perdeu para o Marcelo Crivella.
Casemiro de Andrade, morador do Morro da Providencia que também vendia cerveja e estava acompanhado dos dois filhos um de 3 e outro de 5 anos é outro que não esconde a bronca com o prefeito:
— O Eduardo Paes precisa parar de palhaçada. Quer dizer que tem perigo de contaminação nas ruas, no carnaval dos blocos e não tem perigo na Sapucaí. Só pode estar de sacanagem. Ele quer garantir o faturamento das grandes empresas dentro da Sapucaí e de alguns blocos e pessoas de sua relação que vão fazer carnaval em espaços fechados. Os ambulantes que ralam empurrando carrinho de um lado para o outro estão proibidos de trabalhar e ainda podem ser reprimidos. Tem nada não, daqui a pouco ele vem pedir meu voto — encerrou.
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