Bondinhos: será que agora vai?
O diretor presidente da Central Logística Flávio Vieira se encontrou com moradores de Santa Teresa para discutir as reformas do sistema de bondes
Um encontro que além de positivo, foi altamente propositivo. Essa poderia ser a melhor definição da reunião dos moradores de Santa Teresa, representados pela AMAST – Associação de Moradores de Santa Teresa -, e o diretor presidente da Central, o advogado Flávio Viera, nomeado pelo governador Cláudio Castro no último mês de abril para dirigir a CENTRAL - Companhia Estadual de Engenharia de Transportes e Logística – responsável pelo Sistema de Bondes de Santa Teresa.
A conversa com os moradores que teve quase três horas de duração, aconteceu na quarta-feira (20) e, posteriormente, Flávio voltou a falar sobre o assunto numa visita que realizou à Estação Motorneiro Nelson, no Largo da Carioca. Diferente do que ocorre frequentemente, o diretor não demostrou ser uma pessoa disposta a fazer média. Não se mostrou afeito aos calorosos apertos de mãos, tapinhas nas costas ou largos sorrisos e procurou ser cauteloso e propositivo. Muito mais que expor seus planos, promessas e possíveis realizações futuras estava mais interessado apresentar e buscar soluções. De início foi claro com os moradores:
- Nossa intenção é zerar todos os problemas existentes relacionados ao sistema de bondes em toda sua extensão, Largo das Neves, reforma da garagem, melhoria na subestação, contratação de funcionário. Vamos trabalhar para isso e esse nosso objetivo prioritário - comentou.
Esclareceu, por exemplo que seu maior problema até aqui era equacionar uma pendência que poderia emperrar qualquer tentativa de dar continuidade às obras, pois precisava que o antigo consórcio que executava as obras e cujo contrato foi interrompido, aceitasse ou não dar prosseguimento ao contrato celebrado anteriormente. A continuidade das obras foi aceita e, com isso, a Central Logística não precisa abrir outro processo licitatório, o que levaria no mínimo quatro meses.
Com a questão contratual resolvida com a concessionária o início das obras depende apenas que Procuradoria Geral do Estado ratifique a decisão, o que deverá acontecer nos próximos 15 dias. Os principais assuntos discutidos entre os moradores e o presidente da Central foram os seguintes:
Enquanto a preocupação da Central até aqui foi com os turistas, os moradores querem um bonde que atenda a comunidade
Ramal Paulo Mattos
O percurso do bonde foi interrompido desde agosto de 2011, dia da tragédia de 27 de agosto e hoje é a principal reivindicação dos moradores e, segundo Flávio, também se transformou na principal prioridade da Central Logística
O que falta?
Está sendo feito um minucioso levantamento no almoxarifado da Central para saber exatamente a quantidade de trilhos existentes e se esses trilhos conseguem cobrir a extensão até o Largo das Neves. Informações iniciais dão conta de que os trilhos existentes possibilitariam a extensão da circulação dos bondes até o posto de saúde, próximo ao Bar do Gomes. Para o restante do percurso dependeria da compra de trilhos que possibilitasse a extensão dos bondes até seu trajeto original que é o Largo das Neves.
Bondes Antigos
Os moradores sempre exigiram a reforma dos bondes antigos, pois acreditam que eles teriam plenas condições de circular. Hoje ainda existem oito deles em situações precárias na garagem dos bondes.
Decisão
O presidente da Central Logística disse acreditar que pelo que viu na garagem os bondinhos antigos estão em péssimo estado e que nas condições em que se encontram, dificilmente teriam condições de serem recuperados e que possam voltar a circular.
Contra argumento - Foi informado então pelo presidente da AMAST Paulo Saad que é arquiteto, um estudioso do sistema de bondes e entende como pouco do assunto, que, dos oito bondes, pelo menos três deles, podem ser recuperados e poderiam voltar a circular normalmente.
Resolução - Diante disso, será agendado nos próximos dias um encontro com engenheiros, técnicos e pessoas especializadas em reformas do bonde para se saber exatamente o estado dos bondes e se eles podem ou não voltar a circular.
Reforma da Oficina – Talvez a primeira ação da nova diretoria da Central será a reforma da oficina dos bondinhos no Largo do Guimarães que passou por um total processo de sucateamento em governos anteriores.
Melhora nos serviços – Segundo o presidente o objetivo e aumentar gradativamente número de bondes e diminuir os intervalos entre um bonde e outro. Atualmente apenas três bondes estão circulando entre 8 da manhã e 17h com um intervalo de dez minutos
Política de preço – A Central Logística e a Secretaria de Transportes se isentam de qualquer responsabilidade sobre essa questão, pois essa é uma decisão que cabe à Casa Civil do governo do Estado. A decisão de se cobrar R$ 20 Reais de turistas e oferecer transporte gratuito aos moradores que fizerem a carteirinha de morador foi uma decisão da Casa Civil e só eles podem esclarecer as razões dos critérios que adotaram.
Bilhete Único – a Central Logística já solicitou à empresa Rio Card que presta serviços de bilhetagem no Rio de Janeiro que crie mecanismos para se adotar o sistema de bilhetagem única nos bondes. A Rio Card fez vários estudos e está preste a entregar uma proposta do sistema de bilhetagem.
Obras em tempos de eleições
Uma pergunta que não quer calar
Há mais de 20 anos os moradores avisam do sucateamento dos bondinhos, do péssimo estado de conservação e falavam de uma tragédia anunciada. Aconteceu em 27 se agosto de 2011 e, desde então, os moradores criaram o Marco 27 e, apesar disso os governos anteriores ignoraram a reivindicação dos moradores. Agora o atual governador anuncia as obras há três meses da eleição. Não parece estranho e eleitoreiro?
Flávio Vieira
" Sou uma pessoa técnica e procuro não me envolver em questões políticas. O que precisa ficar claro é que a responsabilidade do sistema de bondes é uma responsabilidade do Estado, deve ser uma política de Estado e não de um governador ou outro. Penso porém, que se a recuperação dos bondes fosse uma questão eleitoreira eu teria assumido em abril de 2021 e não em abril de 2022. Minha preocupação é em fazer o que me foi determinado que é a recuperação de todo sistema de bondes. Esse é um compromisso que assumi comigo mesmo e pretendo cumprir - finalizou
Eleições não vão interferir nos bondes
Alguns podem acreditar que toda boa vontade que vem sendo demonstrada em relação aos bondes estejam associadas eleições do próximo dia 2 de outubro. Não é bem assim: a justiça decretou em 2011, que o governo do Estado reforme todo sistema de bondes de Santa Teresa em sua totalidade. O que os governos anteriores fizeram foi recorrer, postergar e ganhar tempo, mas por mais que tentem adiar terão que cumprir a decisão que já transitou em julgado.
Em razão disso, independente de quem vencer as próximas eleições, seja Cláudio Castro que era vice-governador e assumiu o governo em lugar de Wilson Witzel que sofreu impeachment ou Marcelo Freixo, que aparece ao lado de Castro liderando as pesquisas, o compromisso com o bonde terá que ser mantido exatamente por ser uma política que cabe ao Estado ou não à boa vontade ou ao humor de um governador ou de outro.
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