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Virgilio Virgílio de Souza

Caserna acuada com assédios, problemas mentais e suicídios

Audiência Pública discutiu casos de assédios, problemas mentais e suicídios nas Forças Policiais e mostrou uma realidade caótica e assustadora dentro da corporação

Encontro que reuniu agentes da Policia Militar e Civil, representantes do DEGASE e do Corpo de Bombeiros mostrou um quadro preocupante e assustador


Angústia, solidão, depressão. Esses são problemas sérios que, em condições normais, estão diretamente ligados as péssimas condições de trabalho, pressão, insegurança e assédios de diferentes naturezas. Se esse quadro fosse apresentado por profissionais de uma outra carreira profissional, os insensíveis que tiram onda de lacradores nas redes sociais e fazem arminhas com as mãos sem nunca terem pego numa arma, diriam que todos esses desabafos não passam de chorumelas,frescuragens, "mi..mi..mi”.


O quadro é assustador, pois os relatos da pressão psicológica no dia a dia que podem levar, incl8usive, ao suicídio são feitas por agentes da força de segurança do Estado, exatamente aqueles que deveriam cuidar e zelar pela segurança da sociedade. A difícil realidade que vivem os agentes de segurança, pôde ser observada durante a Audiência Pública realizada no auditório da ALERJ – Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro -, na quinta-feira dia 4. O clima em alguns momentos, era de total perplexidade. Eram relatos, alguns deles , emocionados, outros que demonstravam um grande grau de sofrimento de componentes de nossas forças policiais, que, desolados, na verdade estavam soltando um grito de socorro


Algumas falas, eram surpreendentes, pegava a todos de surpresa e gerava espanto. As deputadas Mônica Francisco, (Presidente da Comissão de Trabalhoe e Dane Monteiro (Comissão dos Direitos Humanos) - Ambas do PSOL - , além da ex-delegada Marta Rocha (PDT) - presidente da Comissão de Saúdealho -, que presidiu o encontro, em muitos momentos não escondiam uma certa surpresa com o que ouviam.

Monica Francisco, Marta Rocha e Dani Monteiro comandaram uma Audiência que mostrou a dura realidade dos agentes policiais do Rio de Janeiro


O quadro de insegurança dentro dos quartéis vem sendo discutido há muito, mas nos últimos meses, parece que a situação vem se agravando, não se sabe ainda, todas as práticas impostas pela pandemia tem colaborado para isso. Só nas últimas duas semanas, dois oficiais Civis e uma oficial do Corpo de Bombeiros cometeram suicídio. O sinal de alerta se acendeu, pois segundo relatos vindos dos quarteis, foram detectadas tendências de que a situação possa piorar. Assusta aos pesquisadores, o fato de um levantamento do Instituto de Pesquisa e Prevenção e Estudo em Suicídios realizado entre 2018 a 2020 colocar o Rio de Janeiro, São Paulo e Ceará como líderes nos índices de suicídios notificados no pais em números absolutos.


Para a deputada Dani Monteiro é preciso se olhar a questão por outro ângulo: “Ainda temos na sociedade o discurso de que depressão e os problemas de ordem psicológica são bobagens, quando na verdade não é bem assim. A atividade do trabalho em diversas categorias profissionais esta diretamente ligado aos problemas psicológicos e à saúde mental, e com nossas forças policiais não é diferente. Temos olhar com carinho para esses profissionais – afirmou. Já deputada Marta Rocha autora do Projeto de Lei 4.990/21 , cuja proposta é - tratar da saúde do trabalhador em instituições de segurança pública e do monitoramento dos casos de suicídio de policiais -, acha que é preciso somar forças e criar ações efetivas para a situação:

- Enquanto delegada vivi de perto a realidade da corporação e posso afirmar que esse universo é muito mais séria que se possa imaginar. Esse audiência é parte de um processo,. Vamos conversar de forma individual e colhermos depoimentos que nos possibilite ter uma maior aproximação com os problemas. O objetivo é montarmos um grupo de trabalho para ouvir policiais, tanto da policia civil quanto militares além de agentes penitenciários e bombeiros para termos uma coleta de dados que nos possibilites um diagnóstico bem próximo da realidade e, a partir dai, podermos colaborar para que o Estado tenha um sistema de qualificação tanto para a prevenção de problemas psicológicos quanto de suicídios


Pressão psicológica e assédio moral


À medida em que os presentes iam tendo a oportunidade de fazer seus relatos, falar de suas experiências o auditório era tomado por um ar de constrangimento em razão de uma série de práticas que, ao que parecem são corriqueiras, mas absolutamente condenáveis.


Policiais que estão angustiados, deprimidos, com problemas de ordem psicológica quando precisam buscar acolhimento, desabafar e procurar conforto, não são orientados a procurar um médico, psicólogo ou o responsável pela saúde da corporação, mas devem se reportar a um oficial superior e, diante disso, ficam absolutamente desconfortáveis e intimidados, pois temem que o desabafo possa ir para ficha de pessoal, se transformar numa espécie de registro de ocorrência e, no futuro, prejudicar quem se queixou

Código Internacional de Doença

Outro ponto que causou assombramento foram as denúncias de não reconhecimento de um CIC – Código Internacional de Doenças. Essa prática é algo muito grave e pode levar à prisão por falsidade ideológica e a perda do diploma no Cremerj - Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro. As queixas são de que dentro das forças policiais é comum os médicos desconsiderarem uma prescrição de outro médico, ignorarem completamente o laudo, impondo a descrição que é de interesse da corporação. Com isso, existem militares que estão sendo reformados, mas poderiam estar trabalhando em serviços burocráticos e, acabam prejudicados, pois de receber integralmente


Outra questão que causou espanto foram os relatos de que em alguns quartéis, quando os policiais saem para uma operação, e não voltam antes das 14h, horário de fechamento do rancho, perdem direito à refeição diária e são obrigados a ficar sem comer.

A queixa é também contra a falta de um de vale refeição


Outros problemas relatados na audiência e considerados prejudiciais à saúde mental e física da corporação foram os seguintes:

-Baixa remuneração

- Falta de um Plano de Saúde

- Carga de trabalho excessiva com os policiais não tendo tempo o suficiente para descansar.

- Vale transporte com valor insuficiente, principalmente, para os policiais que moram em bairros mais distantes e dependem de pegar duas conduções


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Em busca de alternativas


A cientista política e pesquisadora da UERJ Dayse Miranda uma das estudiosas mais conceituadas sobre o assunto afirma que, enquanto não se investir de maneira séria e organizada, não encontraremos uma solução para os problemas:

- Para prevenir é preciso conhecer e se não tivermos pesquisas institucionais confiáveis, não teremos dados que gerem confiança. Para melhorarmos esse cenário é preciso investir num sistema de monitoramento qualificado com dados e informações precisas para avaliar o tamanho do problema. As melhores pessoas para fazer esse acompanhamento são os próprios profissionais de segurança pública. Temos um sistema de informação que aplicamos há três anos e o desejo é de disponibilizarmos esse serviço para as instituições que queiram aplicar e diagnosticar os problemas que enfrentam


Uma das falas que mais despertou atenção, foi da diretora de Assistência Social, a Tenente coronel Clarissa Barros não buscou subterfúgios ou argumentos que pudesse suavizar a realidade e afirmou que não dá para separar as coisas, que problemas enfrentados pelos agentes de segurança estão interligados:

- Não há como separar os problemas emocionais, o estresse, a solidão, a angústia dos problemas sociais. Problemas como a educação dos filhos, a insegurança permanente de sair para trabalhar sem se saber exatamente se voltará para a casa, as questões financeiras e as mínimas garantias trabalhistas sempre levam a um quadro de estresse. O que temos feito é trabalho muito bem elaborado para levar ao conhecimento com quais os serviços tanto o praça, quanto o oficial podem contar e de tudo que ele pode desfrutar em seu benfício da corporação. Além desse trabalho realizamos outro que considero muito importante que é o de inclusão do trabalhador ferido amputado ou paraplégico num programa de temos uma reinserção social - completa.

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