Cinema “eleva o astral do morro”.
Moradores de volta: Cine Santa exibe Marighella, se firma como cinema de bairro e mantém a proposta de exibir o melhor do cinema nacional
Se há uma coisa que praticamente todos os moradores de Santa Teresa curtem e se orgulham é do Cine Santa. Três vezes vencedor do prêmio de maior exibidor de filme nacional, o espaço localizado no Largo do Guimarães, além do cinema tem uma bela galeria no hall de entrada destinada a arte e cultura e serve como um ponto de encontro dos moradores.
Sempre foi assim...
Mas veio a pandemia em março de 2020, medidas de restrições foram impostas e tudo mudou. As ruas ficaram vazias, as portas do cinema se fecharam, assim como as dos bares e restaurantes, com isso, os moradores se recolheram e fez-se no tranquilo e aconchegante bairro um silêncio desanimador.
Com mais da metade da população vacinada, o cinema que vivia um grande vazio, volta a receber moradores que devolvem vida, calor e esperança ao cinema e ao bairro
Neste contexto, o Cine Santa e todos envolvidos com a produção cultural passaram por momentos difíceis. Santa Teresa muito especialmente, é um bairro de pessoas conscientes, politizadas que não acreditam que o vírus é apenas uma gripezinha e muito menos que vão virar jacaré. O quadro de caos que o vírus impôs, ao que parece, passou e a maior evidência do fato é o sucesso da exibição do filme Marighela. A procura é grande, e em muitas sessões os ingressos ficam esgotados.
Com o novo quadro que se desenha, a atriz Fernanda Oliveira e o cantor e compositor Adil Tiscatti comemoram na esperança de dias melhores. Ao falar da volta das pessoas Fernandinha, como é conhecida por todos no bairro, não esconde um misto de alegria e emoção:
- Foram dias difíceis que trouxeram uma grande angústia. Era muito triste ver o cinema fechado, o bairro silenciado. Causava um grande tristeza, um certo desânimo ver tudo parado. A pandemia trouxe uma sensação ruim, de descontinuidade, pois ficamos imobilizados, parecia que a esperança tinha se escondido em algum lugar e não sabíamos se iria voltar.
Adil e Fernanda depois de um longo tempo de angústia e incertezas, voltam a vislumbrar dias melhores para o Cine Santa
Mas apesar do caos que se instalou com a pandemia Fernanda e Adil tiveram motivos para comemorar, pois viram nascer Olívia, a primeira filha. Com o nascimento de Olívia, hoje com 18 meses, o recolhimento foi ainda maior. Ao falar do direito de poder sair, curtir o cinema pelo qual tem verdadeira paixão e da volta do público, os olhos de Fernanda ganham um brilho especial:
- A volta das pessoas ao cinema é motivo de muita alegria e emoção. Somos um cinema de bairro, onde as pessoas se conhecem e o espaço sempre foi meio que um ponto de encontro. Estar aqui é a possibilidade de reencontrar amigos, vizinhos, pessoas do lugar. Por outro lado me deixa emocionada, ver o Cine Santa cumprindo sua função de resgatar a potencialidade do cinema brasileiro, de nossa história. Nossa proposta desde o início foi a de um cinema de arte politizada e, por isso, sempre privilegiamos o cinema nacional. Ver o cinema bombando com a exibição de Marighela, um filme nacional que nos convida a uma profunda reflexão sobre nossa história é motivo de orgulho. Acreditamos que essa é mesmo a função do cinema, apresentar uma arte politizada e Mariguelha vai exatamente de encontro do que pensamos ser a função do cinema e da cultura na sociedade de um modo geral
Fernanda conta que esse retorno tem sido de muitas emoções e quase como um recomeçar. Fala que um dos momentos mais emocionantes nesse novo período foi ver após uma sessão, a plateia de pé aplaudir a exibição de Marighella:
- Tudo parece novo. A volta das pessoas, o cheiro da pipoca, as poltronas ocupadas, as vozes, sorrisos e abraços que presencio. Tudo isso tem sido para mim um recomeçar. Fiquei muito tempo afastada e, verdadeiramente, sentia saudades. Outro dia, após uma sessão quando vi as pessoas aplaudindo de pé a exibição do filme, me derreti, fui às lágrimas. É emocionante ver o sentimento que o cinema pode trazer nas pessoas. É emocionante ver que o cinema esta vivo.
Sucesso de Marighela faz administradores do Cine Santa
pensarem em uma semana em homenagem a “Seu” Jorge
"Seu" Jorge, um ex-morador do bairro, que fez muito sucesso em Tropa de Elite, e tem sido muito elogiado por sua atuação em Maringhella, agora viverá Pixinguinha
Se depender da vontade dos administradores do Cine Santa o cinema estará realizando nas próximas semanas uma homenagem a “Seu” Jorge e exibindo os filmes Pixinguinha em homenagem a um dos nomes mais consagrados de nossa música e, simultaneamente, Marighela em cartaz e que resgata a história de um deputado que se opôs à ditadura militar e , ainda, “Tropa de Elite”, que mostra o submundo da política e da criminalidade.
Enquanto reveza na administração do cinema com Fernanda e cuida de Olívia, Adil Tiscatti não esconde a empolgação de realizar uma semana exibindo filmes onde “Seu” Jorge tem o papel principal. O cantor, compositor e ator foi morador de Santa Teresa onde iniciou sua trajetória musical com o Grupo Farofa Carioca, se tornou um ator de grande destaque e é o principal protagonista nos três filmes a serem exibidos.
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