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Coronabloco: Santa Teresa repudia carnaval fora de época

Moradores através da Associação vão

questionar Policia Militar e Guarda Municipal.

Blocos do bairro criticam aglomeração

Continua repercutindo mal e causando polêmica a aglomeração provocada por um grupo de músicos no Largo do Guimaraes, em Santa Teresa, na noite do último dia 19, que acabou reunindo em torno de 80 pessoas que promoveram um pequeno carnaval fora de época que, segundo os moradores, que denominaram o evento de "CoronaBloco" ou "Bloco da Pandemia", se entendeu entre às 23h do sábado, dia 19 até às 2h30 da madrugada de domingo, dia 20.


Animados por instrumentos de sopro e percussão, os foliões faziam a festa no meio da rua, sem utilizar máscaras ou mostrar qualquer cuidado com as medidas sanitárias. Cantavam, dançavam sem fazer qualquer cerimônia e sem demonstrar preocupação com os vizinhos. Ao que parece, desconectados da realidade não levaram em conta, que naquele mesmo dia 19, milhares de pessoas ocuparam as praças e as ruas de todo pais e em muitas cidades do mundo para protestar contra a marca de 500 mil mortes ocorridas no Brasil.


A folia ganhou as redes sociais e muita repercussão através de fotos de moradores nas redes sociais e, principalmente, em razão de um vídeo postado pelo fotografo Lui Azevedo. Em matéria publicada pelo Jornal o Dia o fotógrafo mostrou seu descontentamento com a aglomeração: "No atual cenário do país, não podemos aceitar que este movimento tão bonito (carnaval), vire sinônimo de aglomeração e contágio sem justificativa" - comentou.


Moradores recorrem à Associação

Se por um lado foi ruim tudo que aconteceu foi muito ruim, por outro um grupo de moradores viu no episódio uma ótima oportunidade para colocar um ponto final em toda baderna existente no bairro. Nesse sentido, alguns moradores procuraram a AMAST – Associação de Moradores de Santa Teresa -, para saber quais as medidas legais podem ser tomadas contra esses blocos de ocasião que invadem o bairro e estabelecimentos que promovem badernas sem respeitar a comunidade. Os moradores não entendem, por exemplo, a ausência da Guarda Municipal no bairro para coibir esse tipo de situação e, principalmente, o fato de toda baderna ter ocorrido de frente ao posto da Polícia Militar do Largo do Guimarães sem que nenhuma atitude fosse tomada pelos soldados daquele posto.


Associações de moradores se manifestam

Nas redes sociais alguns moradores chegaram a cobrar uma atitude da Associações de Moradores e também da Associação de Empreendedores do bairro. Tanto Paulo Saad que preside da AMAST, quanto a diretoria da AME-Santa – Associação de Amigos e Empreendedores de Santa Teresa - se pronunciaram e se colocaram totalmente contrários ao ocorrido. Saad foi enfático em suas declarações dizendo que os moradores estão no caminho certo e o que ocorreu é parte de algo muito maior que, em sua concepção, tem a intenção de banalizar o bairro:


- Percebi com esse evento muita indignação e revolta por parte dos moradores, o que é natural, pois nos sentimos invadidos. São pessoas sem qualquer identidade com o bairro, que se acham no direito de perturbar a ordem e desrespeitar os vizinhos. A AMAST enquanto Associação não pode fazer muita coisa, mas se o moradores reclamam e exigem uma solução como aconteceu, a associação ganha poderes para representá-los. Muitas pessoas nos procuraram, reclamaram e estamos aqui para orientá-las e conjuntamente exigirmos das autoridades responsáveis providências contra esse tipo de baderna. Junto aos moradores vamos procurar o prefeito para que a Guarda Municipal que é responsável por coibir poluição sonora seja mais atuante e também ao comandante da Polícia Militar, pois muitos se queixam da bagunça naquela área da Rua Pascoal Carlos Magno ser recorrente e acontecer bem de frente a um posto policial.


O presidente lembrou ainda que esse tipo de demanda no bairro é recorrente e que os moradores sempre se queixam de estabelecimentos que esquecem que Santa Teresa é um bairro residencial e que em nome de uma pseudo-modernização tentam impor ao bairro um outro ritmo, uma nova dinâmica:

- Quando em agosto e setembro de 2019 nos colocamos contrários ao evento denominado “Festa da Primavera”, que por dois finais de semana fechou aquele trecho da Rua Pascoal Carlos Magno para colocar um monte de barracas e música ao vivo fomos criticados por alguns. O que aconteceu agora é parte desse plano de fazer de partes do bairro um quintal para turistas, com muito consumo de bebidas e uma baderna total. As coisas não estão desassociadas. São pessoas que não conhecem a realidade do bairro e acham que podem tudo. Em várias outras ocasiões já passamos por tentativas iguais a essa que ocorrem em nome dessa pseudo-moderniazição. São pessoas que querem a flexibilização da APA – Área de Patrimônio Ambiental – que desejam ver ruas fechadas e se esquecem que o bairro é antes de tudo e acima de tudo residencial. Sabemos quem são os comerciantes que respeitam e cuidam do bairro e para nossa sorte eles representam a grande maioria e também sabemos os que desejam apenas se dar bem criando movimentos em nome do bairro. Repudiamos total e completamente essa e qualquer iniciativa que interfira na paz e tranquilidade dos moradores. Santa Teresa não pode ser o quintal de aventureiros que agem através da exploração imobiliária ou comerciantes que queiram transformar o bairro em algo moderninho para faturarem em cima disso - completou.

A AME-Santa que congrega moradores e comerciantes, a maioria deles, moradores do bairro, usou sua página nas redes sociais para manifestar total repúdio ao ocorrido. Diz a nota:

“A Ame-Santa, Associação de Amigos e Empreendedores de Santa Teresa, vem por meio deste post informar que não concorda nem apoia nenhum tipo de aglomeração nas ruas do bairro, enquanto estivermos vivendo a pandemia do Covid.

A Ame-Santa também não apoia eventos noturnos com música alta ou ruído excessivo, que perturbem o sossego dos moradores.

Orientamos todos os associados a seguirem todos os protocolos e medidas sanitárias exigidas pela prefeitura.

Aglomeração como a que ocorreu no Largo dos Guimarães, no domingo, dia 20, durante a noite, mancha a imagem do comércio local e do bairro e acaba penalizando os empresários responsáveis que prezam pela saúde e respeitam os moradores”.

Blocos também repudiam folia fora de época


Alguns tentaram associar a baderna ocorrida no Largo do Guimarães aos blocos de carnaval da cidade. A resposta dos representantes blocos, entretanto, veio de imediato: já na segunda-feira, dia 21, Rita Fernades presidente da Sebastiana – Liga que congrega blocos do Centro, Santa Teresa e Zona Sul, foi uma das primeiras a se manifestar.

- É claro que como liga e como bloco a gente não está apoiando nenhum tipo de

aglomeração. Estamos absolutamente recolhidos, até porque tá tão perto de terminar a vacinação, que não custa esperar mais um pouco. O prefeito já disse que até o final de agosto todos acima 18 anos estarão vacinados. Ai ok. Já esperamos um ano e meio, esperar mais meio ano não é nada", afirmou.


Presidente do Bloco Carmelitas, um dos principais de Santa Teresa e da cidade, Alvanísio Damasceno é outro que acha esse tipo de manifestação fora de época absolutamente fora de propósito e da realidade que vivemos, principalmente, num tempo de pandemia e de tantas vidas perdidas:

- Acho que muitas pessoas já se manifestaram sobre o que ocorreu no Largo do Guimarães e não há muito o que dizer. Eu lamento o descuido com a vida. Nós do Carmelitas só vamos pensar em qualquer desfile ou em colocar o bloco na rua quando pelo menos 80% da população estiver vacinada e quando os órgão de controle sanitários e a ciência declarar que podemos ficar relaxados. Esse episódio me lembra a postura do Bloco Boi Tolo no último carnaval. Eles que sempre foram contrários às determinações, à maneira que a prefeitura organiza e conduz o carnaval também em respeito à vida, não desfilaram. Provam que eles têm um problema com a prefeitura, com a organização implementada pela prefeitura e não com a saúde e o bem estar coletivo. Respeitaram rigorosamente as medidas sanitárias e penso que é dessa forma que devemos agir.


A diretoria do "Me Enterra na Quarta", outro bloco muito querido pelos moradores também se manifestou contra a folia ocorrida no Largo do Guimarães. Trecho da nota emitida pela agremiação diz o seguinte:

“Nós do Bloco Me Enterra na Quarta nos posicionamos contra os acontecimentos da ocorridos na madrugada do dia 20, em Santa Teresa.

As constantes aglomerações noturnas de pessoas sem máscaras na rua Paschoal Carlos Magno contrariam as normas de saúde pública instituídas pela prefeitura do Rio de Janeiro e culminaram ontem com as cenas absurdas amplamente divulgadas.

Não somos a favor da cultura do linchamento virtual, mas cabe aqui uma separação importante a ser feita. O carnaval de rua é parceiro da população carioca!

O Bloco Me Enterra na Quarta é parceiro e respeita a população de Santa Teresa!

Neste momento, pedimos empatia com a dor alheia, respeito à coletividade e o cumprimento das leis que visam a proteção da saúde coletiva acima do individualismo egoico e narcísico”.


Falando em nome do Bloco Aconteceu, outra importante agremiação de Santa Teresa

Purito Ferreira também demonstrou sua insatisfação com o ocorrido:

“Bom dia a todos

Como representante responsável pelo bloco Aconteceu venho aqui expressar meu posicionamento em relação ao que vem acontecendo no bairro por conta de aglomerações e possíveis festas clandestinas.

Faço carnaval no bairro a mais de 40 anos estou muito triste com o que vem acontecendo no mundo por conta dessa pandemia com pessoa perdendo entes queridos e acho total falta de respeito não só pra com essas pessoas assim também com as autoridades, aquelas honestas que com muito esforço lutando contra mafiosos vem fazendo de tudo para termos um futuro melhor, aplaudo os blocos cadastrados do bairro que com muito respeito vem mantendo suas atividades paradas e repúdio aqueles que com certeza não são os moradores do bairro e insistem em fazer farras a exemplo do ocorrido no Largo do Guimarães desrespeitando aos que lutam por dias melhores.

Fazer farra no quintal dos outros é muito bom,

Respeitem Santa Teresa.


A direção da Orquestra Voado uma das agremiações mais respeitadas da cidade também usou as redes sociais para se mostrar contrária a qualquer tipo de aglomeração em nome do carnaval, como s ocorrida no Largo do Guimarães:

“A Orquestra Voadora vem a público manifestar total repúdio a aglomerações como a que aconteceu na noite desse domingo em Santa Teresa. É lamentável assistir a esse tipo de atitude no pior momento possível, quando o país vive o luto de mais de meio milhão de mortes por COVID-19.

Reafirmamos o compromisso do manifesto assinado em fevereiro por diversos blocos do Rio de Janeiro, quando o carnaval foi cancelado. Nossos ensaios e apresentações presenciais estão suspensos desde o início da pandemia e assim permanecerão até que seja seguro retornar. Nossa oficina funciona virtualmente há 1 ano inteiro e apenas com a vacinação efetiva da população este tipo de encontro será possível novamente.

Enquanto a imunização geral não for a nossa realidade, atitudes como essa significam uma tremenda demonstração de desprezo pela vida humana, bem como pelo trabalho dos coletivos e blocos ligados ao carnaval de rua da cidade.







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