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Virgilio Virgílio de Souza

Corrupção e falcatruas, a razão da desmoralização

Rio de Janeiro: Em tempos de Campanha Eleitoral, se fala de promessas futuras e se esquece da corrupção e de favorecimentos de um passado recente


Muitos segmentos em nossa sociedade, principalmente, os caciques dos partidos, sempre criticam a sociedade e reclamam pela demonização da política. Em tempos de campanha Eleitoral fazem promessas de um futuro melhor e se esquecem de mencionar a corrupção, falcatruas e favorecimentos de um passado recente. A verdade, entretanto, é que os políticos com suas mordomias e regalias criaram um mundo à parte, um universo paralelo, totalmente distante e alheio à realidade dos simples mortais que ralam cotidianamente para ganhar o pão de cada dia e são convidados a participar da “Festa da Democracia” apenas na hora de votar. Como podem representar a sociedade se vivem num mundo tão distante do dia a dia da população? - Essa a questão.

Não bastassem regalias como o absurdo da denominada “Imunidade Parlamentar”, e mordomias como verbas de gabinete, auxílio gasolina, dois recessos por ano, uma penca de assessores e uma carga horária que não convence ninguém – trabalhando três vezes por semana -, com o pretexto absurdo que precisam atender suas bases.

Definitivamente, sob nenhuma hipótese, é a sociedade que demoniza a política, mas sim os próprios políticos. Na Câmara Municipal do Rio, o presidente Carlos Caiado determinou uma generosa verba para que os parlamentares tenham carros brindados. Com todas as vênias, parece absurdo e é um absurdo. Os vereadores já ganham o suficientes para brindarem seus carros e, por outro lado, o carro do ex-vereador Gerominho era brindado e isso não impediu que ele fosse fuzilado na porta de sua casa. Quem não deve não teme e nem treme.

Carlos Caiado quer carros brindados para os vereadores, mesmo num momento adverso com dois parlamentares cassados em menos de um ano e outros sofrendo denúncias e acusações


Aliás, a Câmara anda em baixa com o eleitorado carioca. Teve dois vereadores cassados em menos de um ano – Jairinho e Gabriel Monteiro – e existem outros que foram acusados ou denunciados por algum mal feito – corrupção, mutretas ou favorecimentos – Marcelo Arar (PTB) foi acusado por intermediar um esquema para que normas sanitárias não fossem cumpridas em 2017, durante o governo de Marcelo Crivella. Willian Coelho (cujo pai chegou a ser presos) foi denunciado de pertencer a uma quadrilha que desviava cargas.

Matheus Floriano, que era suplente do vereador Gabriel Monteiro, cassado por atitudes imorais, assumiu o mandato em 19 de agosto e já entra recebendo olhares de desconfiança, pois é investigado pelo Ministério Público no caso da Fundação Ceperj – Centro de Estudos e Estatísticas Pesquisa e Formação de Servidores Públicos do Rio de Janeiro. É acusado de estar na lista secreta da Fundação e teria recebido, só esse ano, sete pagamentos, sendo que seis saques foram feitos na boca do caixa. Ele é filho do deputado federal Francisco Floriano, pastor da Igreja Mundial do Poder de Deus.

O escândalo do CEPERJ, ocorreu, depois de um cruzamento de dados feito pelo Ministério Público do Rio e o TCE - Tribunal de Contas do Estado -, onde se constatou que 941 funcionários públicos, ou pessoas ligadas a políticos ou pessoas influentes receberam da entidade, configurando favorecimento indevido, o que é uma uma irregularidade. Os órgãos consideraram ilegalidade quem possui duas matrículas diferentes além da contratação pelo Ceperj ou ocupantes de cargos com regime de dedicação exclusiva. O escândalo vem tendo grande repercussão, principalmente num período eleitoral.

O vereador Alexandre Isquierdo (DEM) que é presidente da Comissão de Ética, deve de certa forma estar constrangido: seu irmão Daniel Isquierdo Moreira foi um dos beneficiados do esquema. Bolsonarista ferrenho, Isquierdo que é defensor de Deus, da pátria e da família é neopentecostal de carteirinha e aliado do governador Cláudio Castro.

Tânia Bastos (Republicanos), que também é neopentecostal, é outra que deve se sentir envergonhada. Sua filha Thays Bastos de 29 anos sem fazer qualquer cerimônia, postou em seu perfil no Instagran pelo menos duas viagens, uma para Dubai e Egito e outra para Porto Seguro e Trancoso, na Bahia. Tudo estaria bem e seria normal se ela não fosse funcionária da prefeitura de Belfo Roxo desde janeiro de 2021 e viajou sem ter tirado férias ou licença e ter continuado recebendo seus salários normalmente. Ela pode não ser uma celebridade ou uma pessoa pública, mas estava usufruindo do dinheiro público.


Alerj: as péssimas lembranças da Cadeia Velha

Mas ossos políticos não demonizam a política apenas na Câmara Municipal. A Alerj - Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro – onde até 1922 funcionou a denominada Cadeia Velha teve dias de total obscurantismo num passado recente. Em 14 de novembro de 2017, a casa caiu com a curiosa operação denominada "Cadeia Velha". Depois de muita investigação do Ministério Público com participação da Polícia Federal, constatou-se um forte esquema de corrupção e favorecimento na distribuição de propinas no setor de transportes públicos a deputados estaduais que vinham sendo praticados desde 1990.

Albertassi, Picciani e Paulo Melo (todos de camisa azul) homens influentes da politica carioca foram presos por corrupção e esquemas fraudulentos


Em março de 2019, numa decisão corajosa da justiça, foi para a prisão, condenado a 21 anos de detenção, o todo-poderoso Jorge Picciani presidente da Casa entre 2003 a 2010. Ele não estava só: Paulo Melo, que fora eleito para a presidência da casa em 2011, pegou 12 anos 10 meses de prisão e, seu vice, Edson Albertassi, que era também presidente da Comissão de Ética pegou 13 anos e 4 meses.

Picciani que tinha câncer na bexiga morreu em maio de 2019. Em agosto de 2021, Paulo Melo que já estava em regime semiaberto, trabalhando durante o dia e se recolhendo ao presídio à noite, também foi solto. Albertassi passou mais de dois anos e quatro meses preso, conseguiu reverter a detenção em prisão domiciliar. No último dia 19 de agosto, sofreu infarto e está se recuperando.

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A demonização no andar de cima

A desmoralização e a demonização da política promovida pelos políticos no Rio não se limitou ao andar de baixo – vereadores e deputados – chegou também ao andar de cima com prefeitos e governadores enlameados até ao pescoço. O ex-prefeito Marcelo Crivella, dublê de bispo e prefeito que hoje concorre a uma vaga de deputado federal acabou preso dias antes de terminar seu mandato em 2020, acusado de favorecimento e ter criado um "QG da Propina". Acabou solto, apesar da série de denúncias e reportagens que pesavam contra ele.

Mas as piores cenas aconteceram no cargo considerado o mais elevado na hierarquia política do Estado. O ex-governador Sérgio Cabral está preso desde novembro de 2016. Foi condenado por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa e somando todas as penas que lhe foram aplicadas, teria que cumprir 405 anos de prisão.



Garotinho, Cabral e Pezão, homens de grande importância no cenário politico do Rio, eleitos democraticamente, mas que pisaram na bola e tiveram a cadeia como destino


O simpático Antony Garotinho que governou o Estado entre 1999 a 2002, concorreu à eleição presidencial em 2002 e foi secretário de segurança do Estado entre 2002 e 2004, quando sua esposa Rosinha Garotinho era governadora, teve seus altos e baixos e também enfrenta as barras da justiça. Em 2008, acabou sendo preso por formação de quadrilha. Em 2016 voltou a ser preso acusado de participar de um esquema de favorecimento no programa denominado Cheque Cidadão.

Suas pretensões de voltar à vida política nas eleições do próximo dia 2 de outubro, foram frustradas, pois teve candidatura a deputado federal impugnada pelo TSE. Se o antecessor de Sérgio Cabral teve problemas com a lei, a realidade não diferiu para o sucessor Luiz Fernando Pezão que governou o Estado de 2014 a 2018, que também passou um período na cadeia.

Foi preso em novembro de 2018 pela polícia Federal no âmbito da Operação Lava a Jato – corrupção e lavagem de dinheiro -, mas acabou absolvido, mas ainda assim teve que usar tornozeleira eletrônica e cumprir uma série de outras medidas restritivas. Pezão, entretanto, não teve o mandato cassado, mantendo o título de governador.

Depois de Cabral e Pezão, em 2018, foi eleito ao cargo de governador o novato Wilson Witzel com o discurso de ser o novo e representar a nova política. Surfou na onda bolsonarista que invadiu o país e se elegeu de forma surpreendente. Meio atabalhoado, chegou dizendo que mudaria para melhor a realidade do Estado – como todos o fazem. Ganhou as manchetes de forma inadequada por dançar e comemorar a morte de um traficante na Ponte Rio Niterói e pela frase dúbia: “tem que mandar atirar na cabecinha”.

Curtiu por pouco tempo o sabor do poder. Foi afastado do cargo em agosto de 2020 por decisão do STJ em razão de suspeitas de corrupção e fraudes no acordo com duas organizações sociais, uma delas, com hospitais de campanhas destinados ao tratamento de pacientes com Covid-19.

Em 2021, com provas contundentes, o Tribunal Especial Misto do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro decidiu, por unanimidade, por seu impeachment. Tentou se candidatar a governador para as eleições de 2022, mas sua candidatura foi indeferida pelo TSE. O mesmo aconteceu com sua esposa Helena Witzel que tentava concorrer ao cargo de deputada federal.

Cláudio Castro um homem azarado: foi vice de Witzel que sofreu impeachment. Escolheu como vice Washington Reis, impedido de concorrer por fazer loteamento irregular enquanto prefeito e, de sobra, teve Allan Turnovsky, seu secretario de Segurança e homem de confiança preso por favorecimento com a cúpula do jogo do bicho.


Com sua saída assumiu o vice Cláudio Castro que esse ano concorre à reeleição. Castro, um bolsonarista que fala em justiça, família e Deus, ou é um homem muito azarado, ou anda em péssimas companhias. Era vice de Wilson Witzel que foi afastado. Escolheu para ser seu vice nas eleições desse ano, o ex-prefeito de Nova Iguaçu Washington Reis, que teve a candidatura impugnada por cometer crime ambiental e loteamentos irregulares.

Para complicar a situação de Castro, faltando vinte dias para as eleições, o delegado da Polícia Civil do Rio de Janeiro, Allan Turnovsky que era secretário de segurança, e homem de sua total confiança, foi preso na manhã da sexta-feira, 09. Com o lema “tolerância zero com o crime” Turnovsky deixou o cargo para tentar uma vaga de deputado federal, mas acabou pego em gravações de celular numa série de armações onde dava proteção e obtinha favorecimentos da cúpula do jogo do bicho.

Nessa conjuntura de corrupção, mutretas, favorecimentos e escândalos de todas as ordens, seria uma injustiça dizer que uma parcela da sociedade carioca demoniza a política. Quem demoniza a política são os próprios políticos. Tem sido quase regra geral, nossos políticos após as eleições, tirarem a mascará de carneiro e mostrarem a verdadeira face de lobos, corruptos e trambiqueiros.

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