Deputados aprovam Projeto que retira gestão do carnaval da Sapucaí da Prefeitura
O Sambodromo e todo seu entorno, deixa de ser administrado pela Prefeitura e fica sob responsabilidade do Estado.
Entrevista
Rodrigo Amorim
"A principal voz da direita no Parlamento"
Inimigo da esquerda e das pautas identitárias,
o deputado fala do Projeto de Lei de sua autoria que retira a administração do carnaval da Prefeitura e, consequentemente, do prefeito Eduardo Paes. Na entrevista concedida ao Jornal Capital Cultural, fala ainda de sua aversão ao presidente Lula, do bolsonarismo, da força da direita e da importância da eleição de Javier Melei, na Argentina. Prevê a vitória de Trump, nas eleições dos Estados Unidos e aposta na vitória dos partidos conservadores nas eleições municipais de 2024 e presidencial em 2026.
Polêmico, impulsivo, espontâneo. Essa poderia ser a melhor definição do deputado estadual Rodrigo Amorim que se declara um inimigo das pautas identitárias defendidas, principalmente pela esquerda e pelos movimentos sociais. Dentre outras coisas, o parlamentar foi capaz de, em outubro de 2018, quebrar a placa que homenageava a vereadora Marielien Franco, na Cinelândia; em fevereiro de 2021, de criar uma grande polêmica quando travou grande discussão com alunos do Colégio Pedro II e, em outubro de 2021, ao rasgar uma camisa do Lula e “bater de frente” com moradores de Santa Teresa que faziam uma manifestação no Largo do Guimarães.
Odiado por muitos e amado por outros tantos, Amorim apareceu para a política e ganhou notoriedade, em 2018, quando surfando na onda bolsonarista obteve 144 mil votos, sendo o deputado mais votado no Estado. Nas eleições de 2022, viu seu eleitorado minguar, considerávelmente, quando obteve 47.225 votos, número suficiente para garantir sua reeleição.
Hoje comanda a poderosa Comissão de Constituição e Justiça da ALERJ. Nesse momento, sua metralhadora giratória se vira agora contra o prefeito Eduardo Paes, em sua opinião um “soldadinho do Lula”. O parlamentar conseguiu aprovar há pouco mais de 15 dias, o Projeto de Lei de Número 57/2023, que tira da prefeitura o poder de administrar o carnaval da cidade. A prefeitura já se manifestou dizendo que a iniciativa é Inconstitucional e que vai recorrer.
Um parlamentar impulsivo que é capaz de quebrar a placa de Marielien Silva, ao lado de Daniel Silveira,; se meter em uma confusão com alunos do Pedro II ou rasgar uma camisa do PT com uma imagem de Lula.
Se em público o deputado demonstra ser uma pessoa deselegante, arrogante, e autoritária, individualmente a coisa muda de figura: é uma pessoa dócil, que fala baixo e pausadamente, olhando sempre nos olhos, demonstrando convicção em suas palavras. Sempre tem um leve sorriso e uma pitada de ironia quando fala de seus opositores e adversários. Com essas características é possível se entender a boa relação que mantém mesmo com os adversários de diferentes correntes políticas no Parlamento, como, por exemplo, os deputados do PSOL.
Capital Cultural – Você acaba de aprovar um Projeto de Lei que tira da prefeitura aquela área do sambódromo e devolve ao Estado. Com isso, o projeto tira de Eduardo Paes o poder de administrar o carnaval. O que isso representa na prática.
Amorim – Você usou o termo correto. Aquele espaço físico que compreende dentre outros equipamentos o Sambódromo, o Terreirão do Samba, ali na Praça XI, o solo e o espaço físico pertencem ao governo do Estado. Existe um Decreto Lei de 1975, que transferiu o domínio daquela área para a prefeitura do Rio de Janeiro. Anos depois, no início da década de 80, o governo do Estado, na administração de Leonel Brizola, aportou recursos e construiu o Sambódromo. Isso deixa claro que sempre o que houve ali foi investimento do Estado em uma área que é do Estado. A prefeitura do Rio de Janeiro, desde então, domina aquela área, e, consequentemente, o carnaval, que é a maior manifestação cultural do Brasil. O problema surge em razão daquele espaço ser mal, diria muito mal utilizado pela Prefeitura. No projeto inicial havia uma obrigatoriedade (determinação) de se utilizar aquele espaço o ano inteiro, para as mais diversas ações, principalmente, atividade escolar, cultural, religiosa, de entretenimento, enfim, iniciativas que beneficiassem a todos, mas prioritariamente a sociedade carioca. O que vemos, entretanto, é que entra prefeito e sai prefeito, e a prefeitura se limita a utilizar o Sambódromo quatro dias por ano no período de carnaval. Isso é absurdo, muita má gestão e incompetência
Capital Cultural – Tudo bem, mas isso não pode parecer uma ação de perseguição dirigida e direta contra o prefeito Eduardo Paes?
Amorim – De jeito nenhum e sob nenhuma hipótese. A maior evidência é que a Lei é de 1975, e o que estamos fazendo e com muito atraso é devolvendo ao Estado um espaço que sempre lhe pertenceu e lhe é de direito.
Capital Cultural – Mas qual sua percepção sobre o prefeito Eduardo Paes? – É do conhecimento de todos, que você é um crítico à sua administração...
Amorim – Eu e qulquer pwssoa lúcida que more nessa cidade. Em se tratando de carnaval, a minha crítica em relação ao prefeito é o fato de ele, se transvestir de malandro, se achar o dono e o imperador do carnaval, quando a cidade quase que em sua totalidade vai muito mal. Esse prefeito trata a festa como se fosse sua, quando, na verdade, ele não é dono de coisa nenhuma. A festa é da cidade, do Rio de Janeiro, do Estado do Rio e do Brasil.
Amorim: "O prefeito não pode fazer do carnaval um Palanque Eleitoral para dizer que esta em sintonia com a cidade. A cidade vai mal, muito mal"
Capital Cultural – Você quer dizer com isso, que o carnaval é muito maior que o Município do Rio de Janeiro...
Amorim – - É muito nesse sentido. Se nos limitarmos ao carnaval da Marques de Sapucaí, e refletirmos com honestidade e sem paixões, vamos observar que o desfile das escolas de samba, muito mais que um evento, municipal é um acontecimento nacional. Se pegarmos, por exemplo, os vencedores dos últimos cinco carnavais, vamos nos certificar que há um grande equilíbrio na disputa do título entre escolas do Rio e de outros municipios e não podemos ignorar isso. Os últimos campeões foram: em 2023 (Imperatriz), 2022 (Grande Rio - Caxias); 2021 – o carnaval não se realizou em razão da Covid 10; 2020 – Unidos do Viradouro (Niterói) 2019 (Mangueira); 2018 – Beija Flor de Nilópolis). Observe que 50% das vencedoras não são do Município do Rio. Isso deixa claro que não é uma festa do Município do Rio e muito menos do Sr. Eduardo Paes. É preciso ficar claro que essa festa é muto importante para o Estado.
Capital Cultural – Por outro lado, o carnaval da Marques do Sapucaí, não é exatamente organizado pela prefeitura, mas, na verdade, terceirizado para a LIESA – Liga das Escolas de Samba - , o que também é motivo de críticas por parte de alguns setores...
Amorim – O que quero dizer com isso tudo é que o carnaval é uma manifestação cultural que não pertence tão somente ao Rio, ao contrário, acho muito mais Estadual que Municipal. É uma manifestação importante não só do ponto de vista cultural, mas também do ponto de vista turístico e econômico e de divulgação da cidade. É preciso que tenhamos clareza que o solo onde acontece o carnaval é do governo estadual, que o maior investidor é o governo estadual que aporta recursos que garante a realização do carnaval. A manutenção da festa é feita por órgãos do Estado - polícia militar, corpo de bombeiros, profissionais da saúde -, isso só para citar algumas áreas. Em útima análise, temos que lembrar que esse dinheiro acaba vindo da sociedade através do pagamento de impostos. Não me parece justo, que o prefeito fique tirando onda e desfilando seu glamour fazendo a alegria dele e de seus meninos e achando que o carnaval é dele. Não. É algo sério, importante para o Estado em vários aspectos e não pode ser entendida como uma festinha particular. Então, por todos esses motivos e se tratar de Decreto-lei recepcionado por nossa norma constitucional, qualquer deputado estadual tem a capacidade e a prerrogativa de revogar essa lei. O que fiz foi apenas revogar essa lei que dava o domínio daquele espaço publico para prefeitura. Essa mudança vai gerar consequências objetivas e diretas. O carnaval acontece daqui a dois meses e nesses 60 dias, há tempo o suficiente para o Estado se organizar, e voltar a ser o dono do espaço e da administração do carnaval e também passar a otimizar de maneira mais inteligente e lucrativa aquele equipamento pós-carnaval
Capital Cultural – Esse olhar e essa preocupação com o carnaval começou a ser discutida no primeiro semestre desse ano, quando vários projetos nesse sentido foram apresentados. Porque o carnaval entrou em pauta de forma tão intensa no parlamento?
Amorim –– se observarmos bem, todo ano tem muita polêmica, uma discussão, desentendimentos e até mesmo tragédias envolvendo o carnaval e o desfile das escolas. Cada ano acontece uma coisa. Esse amontoado de fato negativos fez com que os deputados passassem a olhar com mais atenção toda essa estrutura. Me lembro que logo após o recesso, no início desse ano, foi aprovada pelos deputados uma lei da qual fui co-autor que exigia mais transparência no sistema de credenciamento, pois parecia que as coisas não aconteciam com muita de forma muito clara. Em momento algum discutimos a legitimidade dessas credenciais, queríamos apenas saber como esse processo acontecia e se havia alguma irregularidade. Com as reuniões e as Audiências públicas que foram acontecendo fomos sentindo a necessidade de olhar mais de perto para essa relação do Município e do Estado com o carnaval. Chegamos à conclusão de que se há dinheiro público envolvido é preciso haver rigidez nas prestações de contas e na fiscalização. Em momento algum foram questionados os critérios e a honestidade, mas decidimos olhar mais de perto tudo isso, pois se são utilizadas verbas públicas tem que haver uma fiscalização rigorosa e esse parlamento é um dos órgãos responsáveis a fazer de forma eficaz essa fiscalização. Esse projeto é de minha autoria com a colaboração de muitos outros parlamentares de esquerda e de direita. Fizemos algumas audiências, discutimos com os representantes das escolas, de várias pessoas ligadas ao carnaval e acabamos concluindo que o melhor seria que o carnaval e toda sua estrutura fossem de responsabilidade do Estado. A aprovação desse projeto aconteceu com uma esmagadora maioria e não há o que se questionar.
Capital Cultural - Nesse mesmo período no você chegou a participar de uma Audiência Pública na Câmara dos Vereadores convocada pelo vereador Paulo Pinheiro (PSOL) e por seu irmão Rogério Amorim (PL) que tinha o objetivo de discutir o barulho, a ocupação das calçadas por mesas e cadeiras e a desordem urbana que tomou conta de toda cidade. Na ocasião você foi muito crítico ao prefeito e à secretaria de ordem pública...
Amorim – O Eduardo Paes é um fiasco. É recorrente e intensa a queixa dos cariocas dos mais diversos bairros contra a desordem urbana. Me lembro bem dessa Audiência Pública contra a falta de ordenamento. Moradores de diversos bairros e das mais diferentes áreas da cidade e de diferentes classes sociais estavam irritados e indignados com a desordem. Na verdade, Eduardo Paes tem se mostrado um prefeito extremamente incompetente. Vez em quando faz umas papagaiadas nas redes sociais, postando fotografia e querendo demonstrar que está trabalhando, mas o que observamos é a uma cidade em frangalhos. Ele é o cara mais incompetente da história. Essa secretaria de ordem pública é a pior que já vimos. Sou critico à forma que o prefeito vem contraindo dividas, por mais que queiram maquiar a cidade esta completamente endividada. Ele está, por exemplo, refazendo pela terceira vez o BRT às custas de nosso dinheiro. As pessoas perderam o direito de dormir ou descansar em razão da barulheira que tomou conta dos quatro cantos da cidade. Ele agora se juntou ao Lula e deu uma guinada para esquerda... Se transformou em esquerdista, num esquerdopata...
Capital Cultural – Eduardo Paes, um homem de esquerda. Você crê mesmo nessa possibilidade?
Amorim – -Sim, ele passou a adotar as pautas identitárias, deu uma guinada para a esquerda e se transformou num "soldadinho do Lula". Um prefeito que não tem competência para administrar a cidade do Rio de Janeiro, não tem competência para administrar o Sambódromo. Observe que todo ano é o mesmo dilema, com o Corpo de Bombeiros negando alvarás, por precárias condições sanitárias, por falta equipamentos de pânico e incêndio, por falta de investimentos na estrutura da avenida. Vivemos um absoluto desprezo do prefeito para com aquele equipamento e para com o carnaval.
Estamos falando apenas das escolas, a realidade dos blocos é muito pior. Esse prefeito parece que faz favores, quando não é disso que se trata. Ele precisa do carnaval, para se promover. O carnaval e as pessoas que fazem o carnaval nunca precisaram dele. Ele trata o carnaval da Sapucaí e dos blocos da mesma maneira que trata a cidade, é tudo na base do improviso. Não respeita a cidade, seus moradores e as principais manifestações culturais".
Capital Cultural – Você disse que o Eduardo Paes se transformou num “soldadinho do Lula” e se guinou para a esquerda. Um ano após as eleições, qual a análise você faz da administração do presidente Lula?
Amorim – Sou um crítico a Lula e à esquerda e todos sabem disso. Sou um bolsonarista assumido e sempre serei um crítico veemente do governo Lula. É só observar os números de endividamento do Brasil nos últimos meses. Tudo que o Brasil avançou nos quatro anos do governo Bolsonaro vem se perdendo com grande velocidade. O reflexo disso é o "soldadinho do Lula" que é o seu preposto no Rio de Janeiro. Tanto que o prefeito seguindo seu líder, loteou o município do Rio, está quase perto daquela fábula do Ali Baba e os quarenta. Se o presidente já tem quase 40 companheiros mamando nas tetas do governo, Eduardo Paes já tem quase 40 secretários. Boa parte dessas secretarias foram apaniguadas aos políticos do PT e o objetivo é apenas o de agradar o Lula. Critico o Eduardo, não só por ele fazer o papel vexatório de ser o bonequinho, o fantoche do presidente, mas pela adoção de pautas identitárias que sou radicalmente contrário. O objetivo é um só: o PT quer se perpetuar no poder e fará o que puder para atingir e esse objetivo. A turma da boquinha continua gostando de uma boquinha.
Capital Cultural – Os que se identificam com o pensamento da direita na América Latina, comemoram de forma muito entusiasmada a eleição de Javier Milei, na Argentina. De certa forma um alívio após perderem nos Estados Unidos e no Brasil...
Amorim – A vitória de Milei foi fundamental. Eu já antevia essa vitória, pois tenho uma relação de muita proximidade com o Mercosul. Atualmente faço parte da representação parlamentar do Mercosul, sou o presidente da Comissão de Segurança Pública e estive recentemente na Argentina. O que concluo é que apesar do flagelo no qual a esquerda transformou a Argentina, o povo teve um comportamento e uma percepção exemplar e louvável. Vi o crescimento e avanço do presidente Milei, que derrotou tudo aquilo que estava posto. É um liberal no campo econômico que veio para mostrar uma direita mais viva e mais forte do que nunca.
Capital Cultural – Você diria que no Brasil houve um declínio do Bolsonarismo após as últimas eleições? - Acredita que a direita tem fôlego volte a recuperar este espaço num curto espaço de tempo?
Amorim – Não vejo um declínio do Bolsonarismo ou da direita. Perdemos uma eleição com o Bolsonaro e seus seguidores lutando contra tudo e contra todos. Fizeram uma composição onde se valia tudo para se voltar ao poder e se manter a governabilidade. Mesmo com tudo isso, tivemos uma quantidade de votos expressiva, diria até mesmo louvável. Não ganhamos por pouco. Penso que o que aconteceu na Argentina é um presságio do que acontecerá nas próximas eleições nos Estados Unidos com uma vitória do Trump e também o que vai acontecer no Brasil quando defenestraremos o governo do PT e essa esquerda asquerosa. Não tenho dúvidas de que a direita vai ascender ao poder. É uma constatação, pois o bem sempre vence o mal. Na Argentina já é uma realidade e no Brasil e EUA não será diferente.
Capital Cultural – Ano que vem teremos eleições municipais. Como a direita vem se organizando para vencer Eduardo Paes que tem o apoio de Lula? - Qual sua perspectiva?
Amorim - Vamos organizar uma grande frente política com vários setores e segmentos que estejam, de fato, preocupado com a cidade para podermos livrar o Rio de Janeiro do Eduardo Paes. Não falo de pessoas que estão preocupadas em manter a boquinha, que fazem composição até com o diabo para se manterem no poder. Falo de pessoas sérias e preocupadas com os destinos da cidade, do estado e do país. Eu tenho convite do Rodrigo Bacellar que assumirá o União Brasil para uma pré-candidatura. Tenho uma relação muito próxima e de muita afinidade com o PL. Meu irmão Rodrigo Amorim que vereador e acabou de assumir a liderança do PL na Câmara dos Vereadores, então o PL estará engajado. Temos também uma possibilidade importante que tá colocada que e a do deputado federal Ramagem e, diante disso, e desse quadro que começa a se desenhar, tenho convicção que nós vamos unir força nos setores conservadores e traçar a melhor estratégia para derrotar o
“soldadinho do Lula”. O que não nos faltam são nomes em condições de concorrer e vencer o Eduardo Paes. Aliás, o atual prefeito é tão ruim, tão incompetente, tão fora de sintonia que ele é seu maior adversário. É preciso a sociedade carioca se organizar e tirar esse sujeito. O importante é livrar a cidade do Eduardo Paes e de sua turma de meninos.
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