Eleições 2024: prefeito compõe, faz arranjos e muda secretariado
"Gato escaldado tem medo de água fria". Depois das derrotas para Crivella e Wilson Witzel, Eduardo Paes temendo a onda bolsonarista faz composições e troca secretariado pensando nas eleições de 2024
Dizem os entendidos que qual mal termina uma eleição, outra se inicia. Talvez por isso, o prefeito Eduardo Paes, caciques do PT e figuras de diversos espectros da política carioca começam a se organizar alterando o tabuleiro político da cidade, visando a eleições municipais de 2024. A movimentação acontece, principalmente, em razão da força do Bolsonarismo na cidade e no estado e, especialmente, com a popularidade do Número 01, o senador Flávio Bolsonaro, que surge com chances nas próximas eleições. Seu prestígio cria temor e pira cabeções.
A maior evidência do fato, é que ainda faltando dois anos para o pleito, os caciques dão seus pulos e uma grande coligação vem sendo montada. O temor ao Bolsonarismo é bem maior que se possa imaginar. A posse do novo secretariado, anunciado na última quinta-feira (03), no Palácio da Cidade, mostra que figuras importantes na política carioca, dentre elas, o próprio Eduardo Paes, “o Manda-Chuva do PT no Rio, Washington Quaquá, o ex-prefeito César Maia, e inúmeros deputados tanto federal quanto estadual estão com uma pulga atrás da orelha e preocupados com 2024.
A preocupação aumenta com fato de o governador Cláudio Castro, que embora às vezes tente disfarçar, ser um bolsonarista de carteirinha e ter sido eleito com o apoio da Clã Bolsonaro. Ele até tem dados sinais de que pretende se afastar da Clã, e pular do barco, mas sabe que tem débito com a turma da ultra-direita e seria uma surpresa não apoiar e jogar todas as fichas numa possível candidatura do 01. Além do PT e de outros partidos de centro e centro-esquerda, tentando seguir os passos de Lula, o prefeito quer todo mundo a seu lado nessa "Frente pela Democracia". O problema é saber se com tantos egos essa coligação vai se sustentar ou por quanto tempo irá se sustentar.
Novos secretários, boquinhas e oportunistas
O salão nobre do Palácio da Cidade ficou completamente lotado: eraM cabos eleitorais, oportunistas, puxa-sacos de todas as ordens e também pessoas sérias e bem intencionadas
O salão nobre do Palácio da Cidade estava completamente lotado, desconfortável e com pessoas se acotovelando por todos os lados. Nada disso importava, pois em todos os espaços pairava uma pluralidade de perfis com as mais diferentes intenções: eram lideranças católicas e evangélicas; artistas de diferentes áreas de pires nas mãos, presidentes de associações de moradores querendo mostrar a cara e manter o carguinho, oportunistas de todas as ordens buscando uma boquinha, moças bonitas e decotadas, ascones – assessores de coisa nenhuma - com seus fartos sorrisos e também pessoas sérias e bem intencionadas.
Com o claro objetivo de isolar o fantasma do Bolsonarismo e mais uma vez se tornar parceiro do presidente Lula, como ocorreu no passado - momento no qualo Rio mais prosperou -, Eduardo Paes que é raposa velha e para se mostrar aliado e antenado aos discursos do presidente, falou da principal angústia que o incomoda que é a fome e a miséria: “Fui prefeito dessa cidade por 8 anos e nunca vi uma degradação tão grande do tecido social, com tanta gente nas ruas e tantas crianças pedindo nos sinais. Temos que reverter esse quadro” - comentou.
Em seguida, procurando demonstrar tranquilidade, segurança e que estava totalmente à vontade, o prefeito brincou, fez piadas e salientou a importância" de ter vários partidos e nomes relevantes na base de seu governo. Em sua opinião, " essa junção possibilita criar uma base política qualificada, para a sociedade". Terminou enfatizando em seu discurso a preocupação com fascismo, a negação da política e os tempos difíceis que vivemos com uma quase volta do autoritarismo:
- Esse momento que a gente viveu foi o primeiro risco real de grupos que estavam no poder e tentaram romper com as instituições do país. Vimos a contestação e a negação da atividade politica. Não tivemos a capacidade de perceber tudo isso e dar as respostas necessárias. Tudo isso foi fruto de um processo dessa contestação e vulgarização da atividade política. Foi a negação da política e, por isso, precisamos estar atentos para que tais fatos não se repitam - completou.
Figuras com diferentes pensamentos e ideologias que compõe o campo de Centro esquerda passam a ocupar o secretariado de Paes
Novos secretários
Nessa busca de reaproximação com o presidente Lula, o prefeito contemplou o PT com três secretarias: Assistência Social que será comandada por Adílson Pires, um dos fundadores do PT, e ex-vice do próprio Eduardo Paes (2010-2014). A Secretaria de Clima e Ambiente, terá à frente vereadora Tainá de Paula que além de arquiteta e urbanista é ativista das lutas urbanas. O terceiro nome do PT na administração Paes será Diego Zeidan que foi vice-prefeito de Maricá e será secretário de Desenvolvimento Econômico Solidário.
Outros dois nomes que comporão o secretariado da cidade, para alguns, receberam um prêmio de consolação, uma vez que concorreram à Câmara dos Deputados em Brasília, nas últimas eleições, e foram barrados nas urnas. Trata-se de Marcelo Calero que assumirá em lugar de Marcus Faustine a Secretaria de Cultura. Calero foi ministro da cultura em 2016, ex-secretário de Cultura do Rio (2015) e deputado federal, mas não conseguiu se reeleger. Outra contemplada foi Daniela Maia que assumirá foi a Secretaria de Turismo. Filha do ex-prefeito e atualmente vereador do Rio, César Maia, (padrinho político de Eduardo Paes), ela é irmã gêmea do ex-presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia e o fato de não ter conseguido se eleger causou grande frustração, pois teve o apoio de várias figuras da politica do Rio.
Adílson Pires, Daniela Maia e Marcelo Calero assumem uma secretaria e conseguem manter o nome em evidência para uma próxima eleição
Os outros secretários:
Eduardo Cavaliere — Casa Civil - Ex Secretario de Meio Ambiente e Clima na administração do próprio Eduardo Paes. Foi eleito nas últimas eleições para o mandato de deputado estadual 2023- 2026.
Marco Aurélio Regalo — Conservação - Trabalhou na Fundação Rio-Águas, ocupando os cargos de diretor de Obras e Conservação e coordenador regional de conservação.
Tatiana Roque — Ciência e Tecnologia - Professora de Matemática na UFRJ, com doutorado pelo Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia (Coppe)
Everton Gomes — Trabalho e Renda - Mestre em Ciência Política pela UFF, bacharel em Direito pela UFRJ, policial civil e coordenador da Comissão de Mudanças Climáticas da Conferência Permanente de Partidos Políticos da América Latina e Caribe (Copppal)
Guilherme Schleder — Esporte - Eleito deputado estadual nas últimas eleições, iniciou na vida pública aos 22 anos, em 1996, como assessor do então vereador Eduardo Paes.
Tony Chalita — Transformação Digital e Integridade Pública - Ex-secretário de Governo e Integridade Pública na atual gestão do prefeito Eduardo Paes. É mestre em Direito do Estado pela PUC-SP, pós-graduado em Direito Eleitoral pela Escola Paulista da Magistratura, ele atuou como consultor jurídico da Associação Paulista de Municípios.
Patrick Corrêa – Habitação: Especialista em Relações Institucionais, era assessor executivo da Prefeitura de Maceió (AL) antes de ser convidado pelo prefeito Eduardo Paes.
Daniela Santa Cruz — Fundação Cidade das Artes - Artista e advogada. É doutora em Direito da Cidade pela UERJ e integrante da Comissão de Defesa da Liberdade de Expressão da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
Júlio Arthur Villas Boas — Parques e Jardins - Engenheiro civil com MBA em Gerenciamento de Projetos e Gestão de Negócios Imobiliários e Construção Civil.
Após derrotas para Crivella e Witzel
Paes se torna um “gato escaldado” que
teme uma ducha de água fria do Bolsanarismo
No campo da ultra direita, o senador Flávio Bolsonaro, o polêmico Daniel Silveira e na esquerda o deputado Federal Tarcísio Motta, representam uma grande preocupação para Eduardo Paes e o PT
“Gato escaldado tem medo de água fria”. Não sem razão Eduardo Paes começa a se movimentar. Sabe que não tem o carisma e a popularidade de Lula ou Pepe Mujica e que não está com essa bola toda. Ainda deve estar muito viva em sua memória a acachapante derrota que sofreu em 2018, quando perdeu as eleições de forma vexatória para o ilustre desconhecido Wilson Witzel. Deve ainda estar viva em sua mente a vergonhosa derrota em 2016, de seu amigo de fé, irmão camarada Pedro Paulo, que apoiou com todas as suas forças e jogou todas as fichas. PP como é chamado, foi um fiasco e sequer chegou ao segundo turno, perdendo a prefeitura para o duble de bispo/prefeito Marcelo Crivella.
Paes e essa composição - melhor chamar de arranjamento -, com novas e velhas raposas da política carioca deixa claro que um grande sinal de alerta foi ligado. Sabem que uma eleição polarizada em 2024 e um resultado negativo de seu grupo, representaria o enterro político municipalmente por pelo menos por quatro anos, de figuras que se acham fundamentais e extremamente importantes e relevantes para a cidade.
Se na direita e na extrema-direita surgiram novas lideranças, que sempre acabam por se unir em torno de uma causa principal, a qual é a vitória, o campo de esquerda continua patinando e tentando provar reciprocamente quem é mais progressista e quem está mais à esquerda. A vaidade e a arrogância continuam dando o tom e sendo o “Calcanhar de Aquiles” da esquerda.
O temor é Flávio Bolsonaro, (o 01 ), mas para além de seu nome, a direita tem outras alternativas e outras cartas na manga, dentre elas, o polêmico Daniel Silveira, o ex-ministro e general da reserva Eduardo Pazuello (PL), e há até quem fale no ex-ministro e general Walter Braga Netto. Depois de Witzel e Crivela, para usar uma frase de Bertold Brecht muito utilizada pela a esquerda " "Nada deve parecer impossível". Em se tratando de eleições no Rio de Janeiro, sempre pode haver uma grande surpresa quando as urnas são abertas.
Por outro lado, a preocupação apenas e tão somente com a direita faz com que se esqueçam e ignorem o campo mais à esquerda, onde o PSOL, tem nomes qualificados, bons quadros e sempre surge como uma possibilidade. O ex-vereador e hoje deputado federal Tarcísio Motta é um nome que nunca deve ser ignorado
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