Enfim... Uma reforma nos decadentes Arcos da Lapa
Maior mictório a céu aberto na cidade, sujo, abandonado e e ponto preferencial de pessoas em situação de rua depois de sete anos prefeitura decide reformar o monumento
Desde a última reforma que sofreu em 2014, os Arcos da Lapa se transformaram em símbolo de abandono e descaso por parte do poder publico
No último dia 29 de novembro de 2021, durante o lançamento do programa de combate a crimes de oportunidade o prefeito Eduardo Paes fez uma declaração honesta, mas, no mínimo, extremamente constrangedora: "Fico envergonhado como prefeito ao passar pelo centro da cidade".
Na verdade, o prefeito, não costuma frequentar por todos os territórios do Centro e, das poucas vezes que foi visto no Centro desde que assumiu o último mandato, foi para a realização de eventos na Rua do Lavradio. Lapa, Praça da Cruz Vermelha e outras áreas , permanecem entregues à própria sorte. Seus colaboradores que poderiam informá-lo sobre a real situação do bairro, seguem o exemplo do chefe e muito raramente aparecem.
Mas ao que tudo indica, nem tudo esta perdido, o prefeito resolveu tomar alguma iniciativa em relação aos Arcos da Lapa, um de nossos mais importantes monumentos arquitetônicos que, lamentavelmente, se transformou no maior mictório a céu aberto da cidade e área preferencial da pessoas em situação de rua.
Há 15 dias funcionários da Secretaria de Obras fizeram um canteiro encostado junto ao muro da São Martinho bem próximo aos Arcos, onde quatro funcionários passaram a trabalhar em horário comercial na raspagem dos Arcos. O canteiro despertou a atenção e só depois de perguntarem aos operários os moradores tiveram uma resposta sem muita convicção de um dos trabalhadores: “Nós vamos pintar os Arcos. Vi ficar novinho” – afirmou.
Depósito de lixo e área preferencial de moradores em situação de rua, os Arcos diuturnamente, se transformaram no maior mictório a céu aberto da cidade
7 anos depois...
A realidade é muito diferente de 2014 – última vez que os Arcos passaram por uma reforma. Naquela ocasião, a prefeitura também administrada pelo atual prefeito Eduardo Paes fez grande estardalhaço, anunciou a reforma como um grande feito e, de fato, os Arcos ganharam vida e se mostraram à altura de uma das edificações históricas e culturais mais importantes da cidade. Foi o momento no qual os cariocas souberam que os Arcos não podem ser pintados e devem ser caiados, com um cal especial, em razão da construção datada de 1725 ter sido construída com Pedra Cal e óleo de baleia que não absorve tanta água quanto tinta.
Dessa vez, sem qualquer anúncio ou comunicado a obra segue forma muito tímida e lenta. Para se ter uma ideia a prefeitura não se preocupou sequer em disponibilizar uma placa que informe o custo da obra, o tempo de execução, se aconteceu alguma licitação, qual a empresa venceu a concorrência ou se é a própria prefeitura quem vai executar os serviços.
Para a reforma dos Arcos foi construído um pequeno canteiro de obras, e apenas quatro funcionários aparecem para trabalhar
Por se tratar de dinheiro publico o que sempre é uma situação bastante complexa, o prefeito Eduardo Paes já deveria estar escaldado em razão do fogo amigo e também das metralhadoras giratórias dos inimigos. Paes deveria ser cuidadoso com essas obras de recuperação que faz na cidade sem deixar claro quanto vai gastar, se houve licitação e qual o prazo de execução. Não demora aparece um opositor ou um ex-aliado raivoso dizendo que naquela obra existe superfaturamento ou malversação do dinheiro público
Arcos: cartão postal necessário
Em 2018 a prefeitura do então prefeito Marcelo Crivella com apoio de alguns comerciantes criaram o mobiliário “ Rio Ama a Lapa", mas a sujeira, o abandono e os constantes assaltos, além da indefinição de quem patrocinaria o mobiliário, se a prefeitura ou os comerciantes, fez com que a ideia fosse abortada
Motivo de inspiração para enredos de escolas de samba e sambas históricos e equipamento importante em peças publicitárias de grandes empresas, anúncios comerciais, lançamentos de discos e, necessariamente, fotos para selfies de turistas e cariocas, os Arcos mereciam mais respeito. O equipamento que se transformou em importante cartão postal para a imagem da cidade, é junto com o Cristo Redentor, o Maracanã e o Pão de Açúcar como um dos símbolos do Rio de Janeiro. Se tão importantes, porque tão abandonados?
Os Arcos da Lapa representam na verdade, um dos mais importantes símbolos da arquitetura colonial no país. Também conhecido como Aqueduto da Carioca – um nome que cada vez mais cai em desuso - foram construídos no século XVIII, entre os anos de 1725 e 1744. Inicialmente e durante muitos anos, a finalidade era transportar a água da nascente do Rio Carioca que nascia no Silvestre até o Largo da Carioca. O Rio na ocasião tinha sérios problemas de abastecimento de água e, as denominadas bicas primeiro instaladas no Largo da Carioca – eram 16 bicas com torneiras em bronze -, e depois na Rua Sete de setembro e Paço Imperial seriam muito útil à população.
Com estilo romano e tendo uma estrutura de pedra e cal misturados ao óleo de baleia o que possibilita uma liga de concreto extremamente resistente, os Arcos, com seus 42 arcos duplos, tem 17,6 metros de altura e 270 metros de comprimento, estendendo-se do morro de Santa Teresa até o a Estação da Carioca. Apesar do passar dos anos, é uma construção considerada extremamente segura e de rara beleza.
Se em algumas ocasiões parece uma obra feia e abandonada, deve-se muito mais ao descaso do poder público. Curioso é que esses gestores parecem se esquecer que os Arcos representam um dos principais pontos de atração turística da cidade, sendo o maior ponto de visitação noturna do Rio de Janeiro.
O Aqueduto da Carioca foi utilizado até 1896, desde então, foi readaptado para servir de via para os bondinhos de Santa Teresa Os bondinhos de Santa Teresa, outra importante atração turística da cidade se transformou numa verdadeira queda de braço entre os moradores que desejam a preservação dos bondes e o governador que deseja privatizar e modernizar todo sistema de bondes,
O preço da paisagem hoje é de R$ 20 – considerada um absurdo e com a finalidade se atender apenas aos turistas. Moradores de Santa Teresa não precisam pagar, mas em condições normais os bondes são ocupados por turistas. Moradores de outros bairros da cidade são tratados como turistas e obrigados a pagar.
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