Escolas não querem ficar de "pires nas mãos"
Uma semana importante para o mundo do samba, que se iniciou na terça-feira (20) e continua tendo grande repercussão: pela manhã, na ALERJ - Assembleia Legislativa do Estado do Rio - deputados e representantes de diversas agremiações discutiram o fomento para as escolas de samba do Grupo Especial e das Séries Ouro, Prata e Bronze. Na mesma terça-feira, à noite, na Cidade do Samba, foi definida a ordem de desfile para o carnaval 2024. A Imperatriz Leopoldinense, campeã do último carnaval fechará o desfile de domingo (11/2) e a Viradouro será a última a desfilar na segunda-feira (12/2)
Foi uma noite movimentada e de muita expectativa onde dirigentes e representantes das 12 agremiações num clima de alegria e confraternização puderam trocar ideias, tomar uma cerveja e curtir um show do Grupo Balacobaco. Pelo regulamento, duas escolas já estavam com a data de seus desfiles definidas: a Porto da Pedra, campeã da Série Ouro, que subiu do Grupo de Acesso, e abrirá o desfile no domingo (11/2) e a Mocidade Independente de Padre Miguel, 11ª colocada do Grupo Especial em 2022, que será a primeira a desfilar segunda-feira (12/2).
Os representantes das demais escolas foram sendo chamados ao palco em pares e, por meio de sorteio, iam conhecendo a data em que pisariam na Sapucaí. No final, ficou definida a seguinte ordem para os desfiles:
No domingo, a Beija Flor apresenta um enredo que passeia por Maceió, Etiópia e o Egito. O Salgueiro terá como tema os Yanomamis e Imperatriz sobre a Cigana Esmeral desfilam no domingo
Domingo - 11/2 - Ordem dos desfiles e enredos
1- Porto da Pedra / 2- Beija-Flor / 3- Salgueiro / 4- Grande Rio / 5- Unidos da Tijuca / 6- Imperatriz Leopoldinense
Primeira Escola a desfilar
Unidos do Porto da Pedra
A Porto da Pedra, campeã da Série Ouro, título que deu acesso ao Grupo Especial, apresentará o enredo “Lunário Perpétuo: A Profética do Saber Popular”. O tema se debruça sobre o , escrito no século XIV, na Espanha. Os textos são guias para os saberes da medicina, da agricultura e da pecuária. O livreto chegou ao Brasil dois séculos depois. De acordo com o folclorista Câmara Cascudo, o ‘Lunário Perpétuo‘ foi o livro mais lido pelo povo nordestino durante mais de dois séculos. A autoria é de Mauro Quintaes com pesquisa do enredista Diego Araújo,
Segunda Escola
Beija-Flor de Nilópolis
O carnavalesco João Vítor Araújo vai levar para a Avenida o enredo: “Um delírio de Carnaval na Maceió de Rás Gonguila”. A escola vai mostrar as nobrezas de Maceió, de Nilópolis e da Etiópia. Um encontro mágico de personagens reais, mas que nunca se viram, guiados pela luz dos encantados e da ancestralidade, com as cores, os ritmos e os pisados dos folguedos das Alagoas.
Terceira Escola
Acadêmicos do Salgueiro
Em sintonia com presente e as discussões cotidianas, o Salgueiro vai levar para Avenida a realidade do povo Yanomami. O enredo “Hutukara”, é de Edson Pereira. recém-contratado. As pesquisa são do jornalista Igor Ricardo que mergulha no universo dos Yanomamis suas lutas e tradições na Amazônia. Seguramente, as mazelas pelas quais nação passou recentemente com um total estado de miserabilidade e os muitos descasos que sofreram por partem do governo federal serão mostrado na Avenida.
Quarta Escola
Grande Rio
Sexta colocada no carnaval de 2023, a Grande Rio se inspira no livro “Meu destino é ser onça”, escrito em 2009, por Alberto Mussa para dar o tom de seu próximo enredo. Guiados pelo livro os carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora propõem uma reflexão sobre a simbologia da onça no cenário artístico-cultural brasileiro, tocando em temas como antropofagia e encantaria.
Quinta Escola
Unidos daTijuca
- “Um Conto de Fados” – Esse o enredo da Unidos da Tijuca para o carnaval 2024. A proposta é ter Orfeu da Conceição como narrador e condutor de uma história cheia de lendas e mitos. Orfeu é tratado como descendente do mito grego, ele, que conhece o passado, o presente, e o futuro, ele, que por amor desceu “ao abismo da saudade, aos confins da eternidade”. Depois de viajar por muitos séculos, nosso
Sexta Escola
Imperatriz Leopoldinense
Atual campeã do Grupo Especial, a Imperatriz apresentará um enredo que aborda o testamento de cigana Esmeralda escrito pelo poeta paraibano Leandro Gomes de Barros, há mais de 100 anos. Foi o Folheto inspirou o carnavalesco Leandro Vieira a elaborar o tema “Com a sorte virada pra lua segundo o testamento da cigana Esmeralda”.
Segunda-feira - 12/2
No desfile de segunda, a Portela apresenta o enredo "Um defeito de cor" baseado em um romance. A Mangueira homenageia Alcione, com o enredo "A voz do Amanhã" e a Paraiso Tuiti a história de Joâo Candido, " O Almirantre Negro"
segunda-feira
1 -Mocidade / 2- Portela / 3- Vila Isabel / 4- Mangueira / 5- Paraíso do Tuiuti / 6- Viradouro
Primeira Escola
Mocidade Independente de Padre Miguel
A agremiação enfrenta problemas políticos internos e jurídicos - dívidas, penhoras e bloqueios de verbas decorrentes de processos trabalhistas. A escola uma das mais tradicionais e vencedora do carnaval do Rio de Janeiro precisa se reerguer, pois em 2022 foi a penúltima colocada. Por determinação judicial a escola ainda não definiu enredo para o próximo carnaval.
Na quadra, comentários não oficiais o enredo escolhido pela escola abordará a história do Caju, o primeiro fruto de exportação do Brasil, que foi levado pelos portugueses para a Ásia e a África.
Segunda Escola
Portela
A azul e branco abordará a questão das relações raciais e sociais em seu enredo. O tema “Um defeito de cor” baseia-se em um romance da escritora Ana Maria Gonçalves. O enredo traz uma outra perspectiva da história, sob o imaginário de Luisa Mahim. Mãe do abolicionista Luís Gama. , Luisa foi ex-escrava e teve papel fundamental nas revoltas dos negros que aconteceram na Bahia do século XIX, e, muito especialmente, na Revolta dos Malês, de 1835. O enredo esta sendo desenvolvido pelos carnavalescos, Antônio Gonzaga e André Rodrigues.
Terceira Escola
Vila Isabel
A Vila vai reeditar o carnaval de 1993 ““Gbalá – Viagem ao Templo da Criação”, em seu desfile em 2024. O carnavalesco Paulo Barros vai se inspirar no enredo original de Oswaldo Jardim que embarcou na própria imaginação e com uma narrativa fictícia, propôs uma reflexão muito atual sobre nosso planeta: as mazelas que os humanos fazem à Terra e a possibilidade de nos salvarmos por meio das crianças e sua candura. A releitura, agora trabalhada por Paulo Barros, terá como trilha sonora o mesmo samba-enredo da década de 90.
Quarta Escola
Mangueira
A Estação Primeira de Mangueira que no último carnaval apresentou o enredo “ As Áfricas que a Bahia Canta”, esse ano decidiu recorrer a um dos nomes mais tradicionais e mais apaixonados pela escola que é a cantora Alcione. A vida de trajetória artista da cantara será mostrado em seus mais diversos aspectos no enredo " Uma Voz do Amanhã".
Quinta Escola
Paraíso do Tuiuti
A escola fará uma homenagem ao marinheiro João Cândido, com o enredo “Glória ao Almirante Negro”. O carnavalesco Jack Vasconcelos, quer exaltar o líder da Revolta da Chibata, que lutava contra os castigos físicos a que eram sujeitos nos navios atracados na Baía de Guanabara.
Sexta Escola
Unidos do Viradouro
A Viradouro terá como enredo "Arroboboi, Dangbé”, sobre a energia do culto ao vodum serpente, uma força que se manifestou desde épicas batalhas na Costa ocidental da África e influenciou as lutas das guerreiras Mino, do reino de Daomé, iniciadas espiritualmente pelas sacerdotisas voduns, dinastia de mulheres. As guerreiras Mino, eram as mulheres mais temidas do mundo, eram esposas e guardiãs do palácio do Rei do Daomé, além de audazes caçadoras de elefantes, cujos marfins eram utilizados como matéria-prima em cerimônias oficiais e religiosas.
Na Alerj uma Audiência Pública sobre fomento ao carnaval
Se à noite, na Cidade do Samba, tudo era festa, na ALERJ Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro -, pela manhã, - onde aconteceu uma Audiência Pública para discutir o fomento para o carnaval das escolas a conversas era bem mais séria. O encontrou começou com um vacilo, pois os organizadores subestimaram o número de pessoas que poderiam comparecer, marcaram a reunião para o auditório do 18ª andar - um espaço pequeno para um assunto de tanto interesse -, o auditório ficou lotado, com pessoas do lado de fora da Alerj, querendo entrar e a solução foi transferir o encontro para o plenário da Câmara o que causou um atraso de uma hora.
O deputado Vítor Junior autor do Projeto 331/2023 comandou a audiência ao lado de Rodrigo Amorim e ficou entusiasmado com a participação de integrantes das escolas de samba que lotaram o Plenário da Câmara
A Audiência, foi promovida por integrantes da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e das Comissões de Turismo, de Cultura e de Economia. Depois da mudança e com plenário totalmente lotado, o presidente da Comissão de Constituição e Justiça, Rodrigo Amorim (PTB), abriu os trabalhos se desculpando: "Peço desculpas pela mudança de lugar. Entendo que tudo isso, teve um efeito positivo, pois num próximo encontro, faremos num lugar mais amplo. Agradeço a todos envolvidos do mundo do samba pela presença e a participação" – declarou.
Amorim disse ainda que existem diversos projetos relacionados ao Carnaval em tramitação na Casa, citando, dentre eles, um que institui um regime diferenciado de tributação para bens e serviços diretamente afetados pelas restrições das festividades e outro que torna obrigatória a instalação de sinalizadores sonoros e visuais em carros alegóricos. Lembrou, que as escolas, sem um cronograma definido, sempre são as mais atingidas e prejudicadas, pois ficam em apuros até momentos antes do início do Carnaval, sem saber ao certo o valor que vai ser aportado e as condições de aporte desses recursos.
Fomento para a Cultura
O principal objetivo da Audiência era analisar o Projeto de Lei 331/2023, de autoria do deputado Vítor Júnior, que trata do financiamento do Carnaval e propõe normas políticas de incentivo. Foi comunicado aos presentes pelo próprio deputado, que, nada está definido e a iniciativa está aberta e poderá receber sugestões que serão apreciadas, e, podem ser incorporadas até o dia da votação.
Pela proposta, serão contempladas as escolas de samba do Grupo Especial e das Séries Ouro, Prata e Bronze. Se o texto for aprovado pelo plenário, e sancionado pelo governador Cláudio Castro, serão concedidos R$ 3 milhões a cada uma das escolas do Grupo Especial; R$ 500 mil para as da Série Ouro; R$ 110 mil às da Série Prata e R$ 70 mil para as da Série Bronze.
Antes do início da Audiência integrantes das escolas aguardavam pacientemente a transferência do encontro do auditório para o Plenário da Câmara. Tudo foi resolvido e o encontro foi altamente positivo.
A proposta apresentada e elogiada pelos integrantes das escolas, determina que o repasse seja feito pelo Governo do Estado entre julho a dezembro do ano que antecede ao desfile. Por outro lado, as escolas se verão obrigadas a prestar contas ao órgão estadual responsável pelo fomento até o dia 30 de março do ano seguinte ao repasse. Segundo Vitor Júnior o objetivo é promover o turismo, a cultura popular e a geração de emprego.
- Queremos garantir que as escolas não tenham prejuízo em sua organização financeira e no que elas podem apresentar na Avenida. Queremos que a indústria do Carnaval cresça, pois o Rio de Janeiro continua a principal referência carnaval, do samba e da cultura popular. As escolas precisam ter o incentivo do Governo do Estado, e esse projeto estabelece o investimento do Poder Executivo na inclusão social e cultural- declarou.
O vice-presidente da LIESA - Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro - Hélio Motta, afirmou que o Poder Público tem demonstrado um grande avanço ao enxergar o carnaval como uma ferramenta de desenvolvimento socioeconômico:
- São diversos projetos sociais que contemplam crianças e adolescentes. Só na Cidade do Samba, temos mais de 5 mil pessoas, o que equivale a duas fábricas de automóveis. É uma cadeia produtiva gigante. Precisamos de investimentos para que as escolas de samba possam aprimorar seus desfiles, e, consequentemente, incentivar o turismo e a geração de empregos. Queremos propor uma dotação orçamentária independente de governo, isso precisa ser uma política de Estado - afirmou.
A Secretária da Cultura e Economia Criativa Daniela Barros lembrou que o carnaval tem um potencial muito maior que se possa imaginar:
- É bom enfatizar que o PIB da Indústria criativa rende mais que a indústria automobilística. Por outro lado, não podemos esquecer que a pandemia ensinou que não vivemos sem cultura (livros, filmes, música). A cultura cuida do nosso amor cuida e de nosso interior. Não cumpre só o papel da subjetividade. Ela gera renda, paga boleto, coloca comida no prato. É importante essa audiência, pois precisamos criar um marco regulatório, mas não podemos falar só da capital, mas também do interior.
A deputada Rosangela Zeidan (PT) – é outra que reconhece a importância de se pensar em financiamento para o carnaval, mas lembra que é preciso uma visão mais ampla sobre essa que é realmente nossa maior festa popular:
- Carnaval não pode ser entendido apenas como indústria, é transversalidade. É preciso termos políticas de cultura de fato. A cultura é a maior chave dessa economia criativa. O objetivo não é só defender o carnaval do ponto de vista dos desfiles das grandes escolas, mas defender a festa popular que o carnaval representa. Sinto nesse encontro a falta dos blocos, temos muitas ligas dos blocos - Sebastiana, Febarj, Zona Portuária, Liga das Escolinhas Mirins. Penso que é necessário aproveitar esse espaço plural do carnaval para darmos oportunidades aos excluídos e invisibilizados em nossa sociedade.
O presidente da Estácio de Sá e das Escolas de Samba Mirim do Rio de Janeiro Edson Marinho aproveitou a ocasião para lembrar a necessidade de se inserir as escolas mirins no fomento do carnaval:
– Primeiro quero lembrar a vocês que a Estácio de Sá é a primeira escola de samba do Rio de Janeiro. Tudo começou com a Deixa Falar, que completa 96 anos no próximo dia 12 de agosto. Mas falar da Estácio, das grandes escolas e do carnaval da Marques de Sapucaí que consegue todos os holofotes é fácil. Quero chamar a atenção de vocês para uma outra realidade: quero falar das escolas mirins, precisamos incluir essas crianças que em sua grande maioria são oriundas das comunidades, notadamente as mais carentes. Falo de 17 escolas que atinge um universo de 30 mil crianças. As escolas mirins não estão inseridas nesse fomento, mas elas, por tudo que representam precisam de aporte. É lá que surgem os grandes mestres salas, porta bandeiras, compositores, artistas, artesões, meninos que se tornam profissionais nessa grande rede de criatividade que o carnaval proporciona. Precisamos tirar essas crianças da ociosidade. Não tenho dúvidas que 80% dos integrantes das baterias começaram em uma escola mirim. É preciso que olhemos para esse universo com mais carinho, respeito e generosidade – finalizou.
O encontro reuniu dirigentes e integrantes de várias escolas, dentre elas, Acadêmicos da Rocinha, Unidos de Acari, Imperatriz Leopoldinense, Salgueiro, Viradouro, Mangueira, Rosa de Ouro, União de Maricá, Unidos de Bangu, além de representantes do poder público do município do Rio e de outras cidades.
No final, todos satisfeitos e entusiasmados com a Audiência fizeram uma foto para registrar o encontro
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