Jorge Salomão: “Eu sou o que espalho”
- Virgilio Virgílio de Souza
- 24 de set. de 2021
- 11 min de leitura
Por Virgílio de Souza
"Não sou um inquieto.
Às vezes sou quieto...
Reflexivo.
Em meio a tudo isso...
Eu sou o que Espalho"

O belo painel pintado pelo Dj Zod Zanir na parede externa do Cinema de Santa Teresa trouxe na lembrança e encheu de saudades do poeta Jorge Salomão. Um frequentador do cinema, do bairro, das ruas do bairro. Nos deixou no dia 07 de março de 2020, deixando também no ar, sua alegria, esponteidade, magia. Pegando carona no belo painel de Zod republicamos a entrevista que Salomão nos concedeu, em 3 de novembro de 2016. Uma entrevista extremamente atual que mostra a sintonia de um homem com seu tempo.
“Eu quero mais é festa, gente, sorriso, afagos e abraços.
Eu quero gente feliz, pois gente feliz não enche o saco”!
Jorge Salomão
O último encontro com Jorge Salomão se deu na Kombi que subia da Glória em direção a Santa Teresa no início de janeiro de 2020. Como sempre, rimos bastante e conversamos sobre a polêmica entre moradores que não querem eventos no bairro sob o temor de que Santa Teresa passe por um processo de “Lapanização”, com uma bagunça generalizada.
Descemos no Largo do Guimarães e antes de nos despedirmos ele comentou...
- Eu quero mais é festa, gente, sorriso, afagos e abraços. Eu quero gente feliz, pois gente feliz não enche o saco!
Comentei:
- Salomônico você é um inquieto.
Ele sorrindo respondeu:
- Ás vezes também sou quieto, reflexivo. Na verdade eu sou o que espalho.
Soube que estava internado um pouco antes do carnaval de 2020. No desfile de terça-feira do Bloco das Carmelitas, senti sua falta. Não estava ali, com toda sua energia, cantando, brincando...
Falei com Alvanísio Damasceno, nosso querido Xazinho, presidente do bloco e solicitei:
- Temos que fazer uma homenagem a Salomão nosso “Folião Número 1” que está internado.
Xazinho acenando a cabeça positivamente respondeu:
- Muito bem lembrado. E do caminhão do Carmelitas foi saudado e lembrado com entusiasmo.
Nossa última entrevista
Quando completou 70 anos em 3 de novembro de 2016 o Jornal Capital Cultural teve o prazer de entrevistar Jorge Salomão. Foram quase três horas de bate papo, lembranças, e sorrisos. Na ocasião Salomão realizava no OI Futuro de Ipanema, a exposição “No meio de Tudo Isso”, que falava de sua trajetória, sua história e dos vários projetos que tinha na cabeça.
Ao longo da entrevista afirmando várias vezes que se sentia um menino bem disposto e cheio de tesão. Falou da crise pelo qual o país atravessava, dos tempos difíceis que vivemos e afirmava de forma contundente: “depois de tudo que nossa sociedade atravessou ela não pode retroceder. Não pode ser derrotada pela intolerância e pelo retrocesso. Não é algo aceitável, cabível" .
A primeira pergunta que fiz foi exatamente essa:
Você é um menino inquieto, que não sossega, vive sempre procurando coisas...
Interrompendo discordou:
- Não, não é exatamente isso. As aparências enganam. Sou uma pessoa na minha, reflexiva, na verdade um malabarista. Sinto-me como um artista de circo, misturo todas as coisas que vivo e que me cercam na vida. Um malabarista que vai procurando se equilibrar nesse grande palco existencial. Considero a vida um grande palco existencial – o grande palco -, e procuro ser um bom malabarista para me equilibrar no palco existencial da vida.
Na ocasião Salomão trabalhava em um novo disco com músicas de sua autoria gravadas por Marina, Barão Vermelho, Cássia Eller, Adriana Calcanhoto, Frejat e Zizi Possi que seria relançado pela Biscoito Fino. Ao mesmo tempo reelaborava a edição do Disco “Cru Tecnológico” com poemas de sua autoria e um livro sobre seu irmão Wally Salomão. Confessou que seu prazer maior estava nas madrugadas onde buscava inspiração para concluir outros três livros que escrevia simultaneamente: “Campo Minado de Flores”, “Anakun” e “Frutos Podres”.
Apesar dos muitos projetos e afazeres Salomão ainda encontrava tempo para um Sarau de grande sucesso no Teatro Sesi do Centro, onde realizou entrevistas com nomes importantes no cenário da cultura carioca, dentre eles, Amir Haddad, Nélida Piñon, Antonio Cícero, Ana Durães. Amava o Sarau, mas afirmou que estava decidido a dar um tempo para transformar em realidade antigos projetos pessoais.
Conversar com Salomão sempre foi um grande prazer. Suas reflexões sobre a vida, o cotidiano em muitos momentos parecia puro delírio, mas quando observadas com mais atenção eram exatamente a percepção de um homem em sintonia com seu tempo. Quando questionado sobre chegar aos 70 anos respondeu de forma doce e falando das coisas que uma pessoa que chega a esta idade pode fazer:
Chegar aos 70 anos é curioso. Hoje tenho a convicção de que envelhecer é amadurecer. Meu barato, minha opção foi por amadurecer. Hoje curto as coisas que me agradam: tomo vinho, ouço música, cuido das plantas, acordo sempre cedo e vez em quando reúno amigos, pois adoro gente. Fiz, entretanto, a opção de viver sozinho.
A entrevista prosseguiu de forma extremamente agradável...

No painel de Zod uma homenagem ao Bloco das Carmelitas,
uma das paixões de Jorge Salomão
Capital Cultural – Mas não há momentos de solidão?
Salomão – É bom quando você se preenche. Quando você descobre que você é sua melhor companhia. Quando você tem a possibilidade de escolher quem quer como companhia. Gosto de viver assim, eu me sinto melhor assim. Diria que hoje me compreendo melhor, tenho mais jogo de cintura. Não quero que o envelhecer se torne um fardo, uma coisa patética. Vejo pessoas bem mais jovens que passam a adotar parâmetros conformistas em relação a tudo e claro, que com isso envelhecem, ficam ranzinzas. Não me bate esta coisa de ficar o tempo todo me queixando, trabalhando dores e angústias. Sou por excelência um malabarista. Trabalho tudo de um jeito crescente. Quero sempre o novo, quero mudar, me religar.
Capital Cultural – Você é um homem sensível, atento, poeta... Como é fazer poesia num tempo tão grotesco, de tantas desigualdades sociais, golpe, usurpação do poder...
Ele interrompe a pergunta e de forma muita séria comenta...
- Perdão, mas diria que acima de tudo, é um tempo de estupidez generalizada. Mas este é o tempo que temos para viver, é nosso hiato entre a vida e a morte. Trabalho e muito a renovação de minha energia para poder brilhar dentro deste caos, desta estupidez. Me conforta saber que esse não é o meu pensamento, não é seu sentimento e muito menos o pensamento e sentimento da grande maioria. Jonh Lennon dizia “sou um sonhador, mas não estou sozinho”. O que vivemos é uma luta permanente, uma luta diária. Temos que trabalhar para avançar sobre este lamaçal, sobre todas estas coisas feias e obscuras e não permitir que nasça dentro de você autodefesas, rancores, ódios. Não podemos nos deixar sermos contaminados por este ódio. Temos que criar e distribuir antídotos contra tudo isso. Talvez seja este o papel dos poetas, das pessoas sensíveis que curtem e acreditam na possibilidade de um mundo melhor. É preciso sempre instaurar o novo, o belo, mesmo que alguns não queiram que ele seja instalado. É preciso instaurar coisas libertárias, renovadoras e nada é mais revolucionário que o sorriso, que o afeto, que o abraço, que o amor.
Capital Cultural – Essa é a tarefa, essa é a missão. Às vezes não bate um desânimo?
Salomão – Volto a Jonh Lennon: “Não estou sozinho”. Somos muitos e muitas vezes não nos percebemos. Precisamos semear vida onde quer que estejamos. Eles nos querem quietos e tristes e temos que nos inquietar, que semear felicidade e alegria cada vez mais. Aqui em Santa Teresa, por exemplo, o Adil Tiscatti faz isso a frente do Cine Santa, a turma do Largo das Neves faz o bairro respirar com suas atividades culturais. Todos os artistas, poetas e músicos do bairro estão semeando vidas. Eu não tenho dimensão do que faço, nem o Adil, nem a Ana Durães, com sua capacidade de pintar, nem o Amir Haddad com seu teatro ou o Paulo Raimundo com suas rodas de samba. Existe muita vida nas rodas de samba no Curvelo, muita energia viva no Bloco das Carmelitas e muita beleza no pessoal do Céu na Terra. Sim todos nós estamos espalhando vida e, de certa forma, oxigenando vidas. Estamos freando o ódio de muitos a possibilidade de treva que circula. O Jornal Capital Cultural, por exemplo, faz circular vidas com suas entrevistas, com suas críticas, com o espaço que abre para os poetas, os loucos, os pensantes desta cidade. Temos que saber que eles nos querem tristes, calados, trancados em nós mesmos e os incomoda nossa liberdade. Todos nós somos malabaristas e importantes nessa engrenagem existencial.
Capital Cultural – Você é um daqueles que acredita que o belo sempre vem...
Salomão – Sim, claro que sim. Quantas coisas belas existem no mundo nestes últimos tempos? Sim, é possível e somos capazes de fazer valer a frase “mais amor, por favor,”. Os conservadores sempre quiseram e continuam querendo tapar o sol, mas não conseguirão porque já andamos muito. Já caminhamos muito e temos em nós o desejo de não parar. Os sensíveis não se curvam, sempre encontram uma saída na afetividade, no amor, na esperança, na alegria. Seguiremos lutando e buscando dias de paz, de fraternidade, dias melhores para todos. É isso o que somos, é isso que nos torna incansáveis e inatingíveis. É disso que somos feitos.
Capital Cultural – Você que passou pelas atrocidades de um Regime Militar não teme que a configuração que vivemos de atritos entre os poderes judiciário/legislativo/executivo possa criar condições para um retrocesso e clima para que os militares se assanhem novamente?
Salomão – Acho que a ditadura militar é um fenômeno passado. Todo este caos instaurado na política vem de pessoas altamente reacionárias e conservadoras. Clamo e torço diariamente para que este ódio se dissolva e termine. Minha fé reside no que avançamos. Depois de tantas conquistas e de tantos avanços sociais, de tantas coisas bacanas que aconteceram o país passou a vibrar, a pulsar, não podemos e não vamos retroceder.
Capital Cultural – Mas você viveu e foi atingido no corpo e na alma por tudo aquilo, você não gosta de comentar, mas ficaram sequelas...
Nessa pergunta, coça o queixo, olho fixo para um ponto vazio e comenta:
– Não gosto mesmo de lembrar, mas vou falar um pouquinho... Em 1977, eu havia sido preso, espancado e fiquei um longo tempo pra baixo, deprimido e cheguei, inclusive, a perder minha voz. Fiquei mergulhado numa grande solidão. O Wally meu irmão cantava, recitava poemas, me falava de coisas boas e bonitas, tentava me estimular e nada, rigorosamente nada me animava. Estava mesmo mal, mas um dia me levantei, abri os olhos e falei comigo mesmo: “Xô, acabou! Tempo de recomeçar”! Uma força me tomou, o tesão tomou conta de mim e pensei: aqueles miseráveis que me espancaram, que me torturaram que vão para o inferno”, e daquela hora em diante, fui tomado por outra energia. Toda vez que você reage a uma força que quer te dilapidar você espalha luz, melhora o mundo e o que te cerca. O Caetano morava em Salvador veio pra o Rio, o Wally já tinha falado para ele de meu quadro depressivo e ele me convidou para fazer a iluminação do show da Gal Costa no Teatro da Praia. Quando me convidou eu já estava refeito, foi o passo para o recomeço. De certa forma, renasci ali. Foi ali que entendi que eles nos querem tristes, deprimidos, quietos, silenciados.
Capital Cultural – Você conseguiu virar a página...
Salomão - Um dia, muitos anos depois, encontrei em um show de Geraldo Azevedo, no Teatro Rival com um das figuras que me torturou. Num primeiro momento tive muito ódio e vontade de socá-lo, mas em seguida, retomei os sentidos, o sentir e pensei: ele me quer odiando, ele me triste e envergonhado. Fui tomado por uma coragem e uma audácia que não sei de onde veio, me dirigi a ele e falei que iria recitar o trecho de uma música em sua homenagem, e cantarolei Vandré: “Há soldados armados, amados ou não, nos quartéis lhe ensinam antigas lições de morrer pela pátria e viver sem razão”. Ele abaixou a cabeça parecendo envergonhado. Eu sorri entendendo cada vez mais que eles não suportam alegria, poesia, bem estar.

Capital Cultural – Não te assusta, pessoas, nem diria de esquerda, mas de vanguarda serem ofendidas, agredidas, difamadas...?
Salomão – Sim, claro que assusta. Isso também aumenta nossa responsabilidade, pois não podemos deixar o verme do fascismo se proliferar sob nenhuma hipótese. Como pode um imbecil agredir verbalmente Chico Buarque. Hoje temos o sagrado direito de falar, expor, questionar e isso era algo que não podíamos fazer. Essa gente confunde criticar com agredir, ofender. Falta-lhes embasamento, argumentos, são ignorantes, miseráveis. De uns tempos para cá, com todas as conquistas que tivemos nas mais diferentes áreas da sociedade não podemos recuar temos que enfrentar esses absurdos, essas pessoas absurdas.
Capital Cultural - Quais os avanços mais significativos aconteceram em sua opinião?
Salomão – Não percebemos, mas foram muitos. A instauração da democracia foi o bem maior. Não podemos deixar de considerar os avanços que transformaram a sociedade em mais igualitária e menos injusta. O acesso às universidades, o sistema de cotas, o basta dado contra a intolerância religiosa, uma rigidez maior contra o racismo e as opções sexuais, enfim, muitas conquistas. O direito à cidadania é um valor sublime e avançamos muito neste sentido. Retroceder é uma palavra que não faz parte de meu dicionário.
Capital Cultural – Você é um baiano de Jequié que adotou o Rio como sua cidade. Qual seu olhar sobre o Rio? É mesmo esta cidade maravilhosa.
Salomão – Não diria que adotei o Rio, mas sim que o Rio me adotou. Sou duplamente feliz, pois adoro o Rio e adoro Salvador. O Rio me encanta. É uma cidade que sempre me recebeu muito bem. É uma cidade afetuosa calorosa, moleque, de pessoas de alto astral. É uma cidade que mistura muita coisa. Não gosto de falar mal do Rio e nem que falem mal do Rio. Entristece-me pensar o mal que fizeram ao Rio. Estes contínuos (des) governos, estúpidos destruíram a cidade e muito de seus encantamentos. Mas a cidade se supera e, apesar deles, de tanta imbecilidade, quando o sol aparece pelas manhãs, não existe nada mais lindo. Conheço muitos países. Além dos EUA, quase toda Europa e países da África, mas não há nada tão belo quanto o Rio. O Rio tem esta mistura, esta coisa de festas populares, de mistura de gente de riqueza nos morros e comunidades. É uma cidade misturada e amo esta mistura de povos, sotaques, cores. O Rio tem esta coisa de ser uma cidade muito gostosa de pessoas muito gostosas.
Capital Cultural – Mas existe um lado que aborrece. Qual o lado te aborrece?
Salomão – Os desgovernos. Não sei que fenômeno é este, de pessoas tão inteligentes, tão bacanas elegerem políticos tão ruins. Não é compatível em uma cidade tão miscigenada, tão plural ter uma polícia extremamente rígida com as pessoas de pele preta ou com uma aparência mais humilde. Fere a truculência para com os mais pobres. Precisamos e com urgência acabar com essa estupidez. Não consigo entender, não entra em minha cabeça uma prefeitura esculhambada, preocupada apenas com uma parcela da sociedade e que se acha no direito de não permitir a arte pública nas ruas. Um absurdo, mas até outro dia não podia. Você vai à Nova York, Madri, Paris e em todos os lugares pode, mas aqui no Rio, por uma dessas decisões imbecis não se podia. Como pode numa cidade tão desigual e com pessoas passando por dificuldades nossas autoridades mandar que se reprimam os ambulantes. Meu Deus!! Isso não entra. As pessoas estão trabalhando, correndo atrás buscando ganhar o pão e chega a Guarda Municipal cheia de autoridade e os proíbe, levam a mercadoria. Isso é absurdo. O que entristece é esse amontoado de estupidez. Parece surreal, mas uma cidade com sérios problemas de violência, balas perdidas, confronto entre facções nas favelas e os caras preocupados em coibir a arte pública e proibir o trabalho de ambulantes...
Capital Cultural - Podres poderes, equivocados poderes...
Salomão – Sim... Gestos imbecis, atitudes imbecis e é disso que tenho falado. Estes equívocos permanentes nos levam a uma realidade de extrema complexidade, um panorama quase impossível de se conviver. Como a mesma prefeitura com capacidade de prender ambulantes não tem a capacidade de atender a parcela sem perspectiva que busca refúgio no crack. Como não acolher outra parcela que vive pedindo e dormindo nas calçadas. O dinheiro desviado possibilitaria criar centros de reabilitação. Desviam bilhões e não cuidam das pessoas da cidade, não cuidam da cidade. Os caras assumem o poder e o objetivo é um só: equipar a polícia. Hoje nossos policiais parecem verdadeiros robocops, com aquelas proteções todas, aquelas armaduras medievais, capacetes, cassetetes, revolveres modernos com bala de borracha, bombas e mais bombas. Quanto se gasta com bombas para reprimir manifestação de professores, estudantes e trabalhadores? O que reprimem? - Terroristas, sequestradores, guerrilheiros? – Não, nada disso, a repressão é contra a sociedade, contra pessoas honestas que lutam e reivindicam seus direitos.
Capital Cultural – Pra terminar você diria que permanece um equilibrista incansável e esperançoso em meio a tudo isso?
Salomão - Exatamente isso. Enquanto viver, vou lutar vou me equilibrar, me manifestar e brigar contra toda essa estupidez. Enquanto artista, continuo indignado com tudo isso. Não tenho e nunca tive medo, pois ter medo é se omitir, é envelhecer, é compactuar, é não dar mais um passo e morrer lentamente. É preciso espalhar luz, amor e esperança e não podemos nos omitir nesta tarefa. Não podemos recuar. Como diria Caetano Veloso: “É preciso estar atento e forte, não temos tempo de temer a morte”. É isso: não podemos temer as mortes simbólicas a que nos submetem no dia a dia. A morte real é certa e virá e, por isso, temos que lutar todas as vezes que desejarem nos matar, nos conter, nos calar!

Comments