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Milícia toma sede de grupo de teatro e encerra o espetáculo

E as cortinas se fecham: milicianos

tomam de assalto espaço de

grupo de teatro comunitário


Merda... A expressão usada pelos atores teatrais para desejar sorte antes de um espetáculo, tem uma conotação totalmente diferente para os atores do Grupo Teatro Comunitário “Entrou por uma porta”, que existe há 25 anos na Boiuna, em Jacarepaguá.

“Que merda”!!!. A quadra a qual o grupo utilizava dentro da comunidade, simplesmente foi tomada pela milícia, em mais uma demonstração que a segurança da cidade vai de mal a pior e o cidadão carioca esta entregue à sua própria sorte.

Teatro, cinema, palestras as várias atividades do "Grupo Entrando por uma Porta"   foram encerradas com a invasão dos milicianos
As várias atividades do "Grupo Entrando por uma Porta" foram encerradas com a invasão dos milicianos

A invasão aconteceu há dez dias e por preocupação e medo reina um silêncio absoluto sobre o assunto não só entre os moradores como dentre os integrantes do grupo. Após a invasão os milicianos deram 24 horas para os responsáveis pelo grupo "sair por uma porta" retirar todo material existente dentro do espaço, mas depois de alguma negociação, conseguiram uma semana de prazo.


O prazo estabelecido representava uma corrida contra o tempo, pois tinham que retirar uma ilha de edição de rádio e TV, além de todo material de teatro e os que eram usados nas salas para as reuniões com a comunidade e mesmo pertences pessoais dos membros da companhia. Depois de uma procura desesperada os integrantes conseguiram ajuda do governo do Estado que cedeu um caminhão e da Caixa Econômica que cedeu um espaço onde todo material foi armazenado.


O prejuízo do grupo foi ainda maior, pois o dinheiro arrecado com a Lei Aldir Blanc e outros projetos - um total de 24 mil -, foi todo investido em melhorias do prédio. Após muitas tentativas e através de um contato telefônico, foi possível um contato com o professor Reynaldo Santana um dos gestores do grupo. Muito querido e respeitado no meio cultural da cidade por sua seriedade e dedicação, tanto que foi escolhido delegado para as últimas conferências estadual e nacional de cultura, além de ser delegado do Conselho Estadual de cultura, O produtor e diretor disse que obviamente as pessoas estão assustadas, acuadas e não querem se manifestar sobre o assunto:


- As pessoas do grupo, principalmente os que moram na comunidade não querem falar nada, pois alguns entendem que se queixar ou recorrer à policia seria assinar sua própria sentença. De minha parte, preciso respirar, refletir e encontrar mecanismos de prestar conta do dinheiro púbico que arrecadamos e foi investido em melhorias do espaço. Fico triste e lamento, pois o Ponto de Cultura POP, ao qual o "Grupo Entrou por uma Porta" esta integrado, vinha desenvolvendo um belo trabalho naquela área, representávamos a possibilidade real de um futuro melhor para muitos jovens e mesmo para a comunidade, mas tenho que prosseguir.

Entrou por uma Porta


Com uma trajetória de 25 anos o Grupo Entrou por Uma Porta se especializou em arte comunitária e popular. Um dos princípios do grupo era apostar na poética teatral e na vertente étnica e comunitária com o objetivo de construir e levar a diversas comunidades do Brasil e Exterior um teatro impregnado de linguagens da cultura popular brasileira.


O trabalho tinha como proposta um teatro envolvendo gestos, ruídos, cores, plasticidade e linguagens e reconciliando-se com o universo sem deixar de delinear o local, já que sempre procurou respeitar as particularidades das formas de expressões de cada uma destas linguagens e, claro, as peculiaridades de cada uma das comunidades envolvidas. Acreditam os diretores do grupo, que esse direcionamento culmina não só num espetáculo teatral, mas em evento integrador de diversas formas de expressão como uma roda poliforme e coletiva onde dança, teatro, música, cinema e arte-educação são integrados.


O trabalho realizado pelo grupo ao longo desses anos, foi levado a praças, escolas de samba, casas de candomblé, escolas, hospitais e comunidades carentes, transformando-os em verdadeiros palcos de produção de cultura, de convivência social e pensamento crítico. O foco era transformar os moradores dessas comunidades em produtores de cultura, deixando o lugar de meros espectadores, para que pudessem eles, por meio das reflexões alcançadas pelo contato com o artístico, serem elementos modificadores de si mesmos e de seu entorno.


Por ironia do destino, tinham também o objetivo de fazer com que essas comunidades deixassem de ser local de risco social e recuperassem seus lugares de locais de tradição, história e cultura de nossa sociedade.




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