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Nas "faces" de Frida, a realidade do universo feminino


Helen Fernandes lembra a luta e a potencialidade de Frida Kahl e salienta que os tormentos e a angústia da artista permanecem no cotidiano da grande maioria das mulheres


A artista mexicana Frida Kahlo teve uma vida intensa. Uma trajetória marcada por amores, angústia , desamores, casamento conflituoso, solidão, e passagens estarrecedoras, como várias tentativas de suicídio...

Enfim, Frida viveu todas as contradições possíveis que fazem parte da vida da grande maioria das mulheres. Porém, a exemplo da grande maioria das mulheres, foi uma figura aguerrida que lutou intensamente no que acreditava procurando transformar o mundo ao seu redor no início de século XX, um período conturbado e cheio de transformações.

A exposição “Florescendo Novas Cores” da artista visual Helen Fernandes não tem exatamente o objetivo de falar de Frida Kahlo, mas demonstrar a força e a coragem da artista que se transformou em força motriz para uma grande parcela de mulheres na atualidade. Mulheres que enfrentam os mesmos problemas e dilemas que a artista mexicana vivia. Sua inquietude era contra qualquer tipo de preconceito, machismo, sectarismo e a caretice do conservadorismo.

Os dilemas das mulheres numa sociedade machista e conservadora que Frida tanto combateu no início do século XX, permanecem presentes, principalmente, em momentos de conservadorismo e retrocessos neste início de século XXI


Frida era incansável. Sua luta pela igualdade de gênero, contra qualquer tipo de preconceito racial ou de origem e em defesa das mulheres fez com que se tornasse um símbolo de luta e um dos maiores exemplos para os movimentos feministas mundo à fora. Tinha claro o que queria e defendia abertamente que num universo predominantemente ditado pelo olhar e o desejo masculino, os problemas das mulheres tinha que deixar de ser debatido (sufocado) dentre quatro paredes e , nesse sentido, era preciso uma grande tranformação e que essa realidade tinha que mudar. Causou indignação em grande parte do universo masculino quando declarou: :

"assuntos considerados privados na vida das mulheres deveriam ser tratados como políticos".

Helen é uma dessas muitas admiradoras do trabalho e da figura de Frida. Nascida no Amapá e, há dez anos no Rio, quatro deles vivendo em Santa Teresa, a artista de 30 anos, declara que busca refletir em suas telas uma visão contemporânea sobre a limitação enfrentada pelas mulheres no dia a dia. Comenta que a luta do universo feminino permanece o mesmo, que evoluímos pouco e as mulheres ainda hoje lutam pelo óbvio, numa sociedade machista e autoritária e desabafa argumentando que a realidade do universo feminino, muito mais que um incomodo, é uma situação constrangedora e estarrecedora:

“As mulheres são atravessadas física e emocionalmente de muitas formas. Todas as mulheres representam de alguma forma uma continuidade de Frida – reflete.

A artista, numa parceria com o Portella Bar, localizado no Largo do Guimarães, coração de Santa Teresa, decidiu expor seu trabalho onde por meio de pinturas, busca encontrar as mais diversas faces de Frida com as quais vivemos e convivemos no cotidiano e, que de alguma forma, carregam na face, nos olhos, no sorriso as dores e os incômodos de Frida.

Helen começou a pintar ainda criança e confessa que desde muito menina, sempre sentiu uma conexão muito grande com a artista mexicana. À medida que foi se tornando adulta, foi ficando cada vez mais claro, que o tormento, a solidão e a inquietude das mulheres na atualidade representam de certa forma a inquietude, os sentimentos que atormentaram a vida de Frida Kahlo.

Ela admite que a inspiração com a temática aumentou consideravel-mente após ter se mudado para Santa Teresa. Em sua concepção, a ambiência, a luta das mulheres do bairro, a disposição de ir à luta dessas mulheres se tornaram um estimulo a mais. Ressalta, ainda, que as cores, a movimentação cadenciada e o sossego que o bairro proporciona sempre colaboram em seu processo criativo:

A pintura é de certa forma meu porto seguro. Me possibilita paz, me tra tranquilidade e me livrar das angústias que enfrento. Nesse contexto, Santa Teresa é fundamental. É um bairro peculiar, que me inspira e me possibilita uma melhor leitura e compreensão que tenho do mundo e, consequentemente, de meu trabalho – comenta.

As faces de uma "realista mágica"

As lutas, causas e bandeiras de Fidra Kahlo que morreu no dia 13 de julho de 1954, ainda jovem, com 47 anos, com o decorrer dos anos, ganharam uma projeção irreversível e permanecem vivas e de forma intensa nas principais capitais e cidades do mundo – Rio, Paris, New York, Buenos Aires. O que hoje são bandeiras universais, sempre foram traços permanentes na obra e vida da artista. Na opinião da maioria dos críticos, Frida era uma artista de rara sensibilidade que se valeu de um estilo de arte do surrealismo para explorar questões de identidade, gênero, classe e raça, da solidão feminina, do direito das mulheres, da opressão do pós-colonialismo. É apon-tada ainda, por muitos outros, como uma realista mágica

Atenta e encantada com a obra da artista na tela e por sua luta, Helen que assina suas obras como “Mandacaru” – uma homenagem à sua infância, pois o avô, que era de São Luiz do Maranhão, costumava cantarolar a canção homônima interpretada por Luiz Gonzaga. Por outro lado, mandacaru é também uma planta de grande resistência encontrada no semiárido do nordeste brasileiro e, de certa forma, símbolo de resistência dos nordestinos.

O olhar atento de Helen sobre as "Fridas" com as quais nos deparamos no cotidiano

Buscando seguir os passos de Frida, a proposta da exposição é num olhar crítico feminista, que busca mostrar a realidade do cotidiano via figuras femininas em diversos contextos e diferentes classes sociais. São representatividades de afetos, desejos, busca por liberdade, pelo direito de ser e estar livre e viva. Traços que mostram a perspectiva sócio-cultural e a realidade desse belo e intenso universo feminino, ao mesmo tão subjulgado, rotulado e menosprezado.

Na verdade, as várias obras apresentadas remontam a realidade de mulheres potentes que simbolizam o feminino diante de um cenário conservador de uma sociedade patriarcal e machista:

“Minhas linhas são tortas. Em meu mundo distorcido enxergo minhas imperfeições, meus exageros em texturas, meus excessos em emoções. Minha intenção é fazer que nas telas os rostos ganhem volume e textura e demonstrem a realidade" - finaliza.


Exposição: Florescendo Novas Cores

Local: Bar Portella

Rua Pascoal Carlos Magno, 139 – Largo do Guimarães

Até 30 de abril

Visitas agendadas poderão contar com a presença da artista

Informações: 2507 5181





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