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Prefeitura de Paes: uma ação entre amigos?

Não há negação à politica...

O que existe é uma rejeição aos políticos.

Em cerimônia no Palácio das Cidade Eduardo Paes assina nomeação de seus novos secretários


Ficou recorrente – principalmente depois que a direita antidemocrática se arvorou -, e se transformou em lugar-comum entre parlamentares dos mais diversos campos ideológicos - apesar de alguns não terem ideologia nenhuma -, a afirmativa de que há uma grande negação à política. Em se tratando de política tudo é possível, mas essa reflexão/conclusão, pelo que se observa, é um grande equívoco.

No Rio, preocupados com as eleições municipais de 2024 e temendo “o mal maior” que é o retrocesso e as ameaças à democracia, representado pela força do Bolsonarismo – Flávio Bolsonaro é tido como um nome forte -, o prefeito Eduardo Paes e outros caciques da política municipal optaram por uma composição, um arranjamento. Algo do tipo “Frente Carioca pela Democracia”.

Para formalizar essa frente, e contemplar seus novos aliados - alguns bem antigos -, o prefeito trocou parte de seu secretariado, abrindo espaços para o PT e outros partidos. Em discurso realizado no último dia 03, na posse dos novos secretários, no Palácio da Cidade, o prefeito enfatizou o perigo que corremos com a negação à política:

- Esse momento que a gente viveu foi o primeiro risco real de grupos que estavam no poder e tentaram romper com as instituições do país. Isso é consequência de um processo de contestação e vulgarização da atividade política. É a negação da política. Precisamos estar atentos - .

O que se percebe é que não se trata de uma negação à política, como discursam alguns, o que está em xeque são as velhas manias dos políticos que em nome da governabilidade e da democracia, fazem o que podem para se perpetuarem no poder. São figuras públicas que parecem viver num mundo à parte e distante da realidade social. Figuras da república que permanecem, sem qualquer cerimônia, fazendo conchavos, nomeações ao bem prazer, distribuindo mordomias e tratando a coisa pública como se fosse sua propriedade particular.

A postura dessas lideranças é uma total demonstração de indiferença, desrespeito e desprezo ao povo que sofre com parcos salários, ônibus que não circulam, trens super-lotados e filas nos hospitais, dentre muitas outras coisas. No caso do Rio, além de tudo isso, a cidade está totalmente desordenada e entregue à própria sorte. O denominado “Zé Povão” e mesmo parte da classe média está de saco cheio não da política, mas da falta de sintonia, compostura e comprometimento desses políticos.


Rejeição não é negação

Nosso prefeito sabe que administra uma cidade tomada pelo caos urbano. Sabe que moradores de diversos bairros não têm o direito de dormir em razão das parcerias da prefeitura com os denominados Polos Gastronômicos. São bares com rodas de samba e pagodes madrugada à dentro, que, não bastasse isso, entopem as calçadas de mesas e cadeiras. Uma cidade onde não há o direito de dormir e não há o direito de ir e vir. Sabe, também, que todos estão fartos por sua paciência e benevolência com os “Barões do Transporte” que sacrificam a sociedade, tirando ônibus de circulação na maior cara de pau e pedindo aumento de passagem descaradamente e quando melhor lhes convém.

O povo elege um político, observa durante quatro anos sua postura e compostura e, numa nova eleição, o reelege, ou o descarta. Eduardo Paes sabe que negação e rejeição são coisas distintas que, embora os sinônimos sejam parecidos, na prática representam realidades distintas. Água e óleo, substâncias que não se misturam. Não pode dizer, por exemplo, que foi negação à política as duas derrotas acachapantes que seu grupo sofreu nas eleições de 2016 para prefeito e 2018 para governador.

Marcelo Crivella e Wilsom Witzel só se elegeram em razão da má administração de Eduardo Paes


Em 2016, fez uma opção equivocada, quando insistiu com a candidatura de seu amigo de fé, irmão, camarada Pedro Paulo, a quem apoiou e jogou todas as fichas. Foi um vexame, PP como é conhecido teve uma votação pífia, ficou pelo caminho e sequer chegou ao segundo turno. A solução foi ficar na arquibancada lamentando e vendo a disputa entre os Marcelos Freixo e Crivella. A derrota não foi um ponto fora da curva e nem trouxe maturidade. Em 2018, foi ainda pior: entrou na disputa para o governo do Estado, todo soberbo e cheio de si e perdeu feio para o ilustre desconhecido Wilson Witzel.

Nosso prefeito sabe que nos dois casos não foi negação à política e sim rejeição a seu nome. O eleitor do Estado e, principalmente, os do município não negaram a política, foram às urnas contra a vontade, torcendo o nariz, putos da vida e indignados tendo que votar em Crivella para prefeito e posteriormente, em Witzel para governador. A administração de Paes não deu outra opção ao eleitorado a não ser recusar, rejeitar, reprovar os muitos equívocos que cometeu, como por exemplo, a nomeação de secretários e subprefeitos totalmente ineficazes, incompetentes e sem qualificação.

Paes que passou a ser visto como um fanfarrão, sabe que quedou duas vezes não por negação à política, não pelo fato de as pessoas terem deixado de gostar de política, mas por rejeição - estavam de saco cheio de seus sorrisos fartos, das aparições na Sapucaí e no RJ TV e de toda ineficiência de sua administração. Tanto é fato, que a rejeição aconteceu também em sentido contrário. Não houve nenhuma negação à política, o cidadão passar a ter ojeriza ao ex-governador Witzel – um grande vacilão que "mandava atirar na cabecinha" -, e, que possivelmente, hoje não conseguira se eleger sequer para síndico.

Marcelo Crivella, essa foi a rejeição maior, tanto que quando escuta seu nome, o carioca se arrepia todo e "toc... toc... toc… bate na madeira). Com a alcunha de - “bruxo neopentecostal da Universal” -,tentou a reeleição em 2020, mas acabou derrotado pelo próprio Eduardo Paes. O fanatismo religioso do sobrinho de Edir de Macedo, fez com que passasse a ser considerado o pior prefeito da história do Rio de Janeiro que completa 458 anos nesse 1 de março.

Paes tem que estar atento e se cuidar, pois ter derrotado Crivella não representa ter prestígio, ser querido e mesmo servir de alento ou gotas de otimismo e esperança. Sabe, e se não sabe, deveria saber, que venceu o duble de bispo/prefeique muito mais pelos defeitos e desqualificação do adversário que por méritos próprios. A maior evidência do fato é um número considerável de cariocas repetidas vezes e, por muitos meses, passou comentar nos bares, restaurantes, esquinas, praias e em todas as partes: “Crivella eu nunca vou te perdoar por você ter me obrigado a votar em Eduardo Paes.


As novas parcerias do prefeito

Paes e seu novo secretariado: .a possibilidade de uma Frente Carioca pela Democracia


A composição de Paes com vários outros partidos é na verdade, um grande arranjamento. Com Lula em alta e para contemplar os novos parceiros, houve uma farta distribuição de nomeações: foram três secretarias e uma Fundação ao PT: trouxe de volta o velho companheiro Adílson Pires, que no passado foi seu vice-prefeito para a pasta de Assistência Social. Fez um mimo a Washington Quaquá - (o mandachuva do PT na política do Rio -, nomeando o ex-vice prefeito de Marica Diego Zeidan como secretário de Desenvolvimento Econômico Solidário e a vereadora Tainá de Paula, na Secretaria de Clima e Ambiente embora a vereadora que é arquiteta e urbanista sempre foi crítica e contestou o prefeito em muitas ocasiões. Para finalizar o pacote, Júlio Arthur Villas Boas assumiu a Fundação Parques e Jardins.

O PSD também foi contemplado generosamente: Eduardo Cavaliere assumiu a Casa Civil; Marcelo Calero a Cultura e Guilherme Schleder o Esporte. O PSB terá Tatiana Roque na secretaria de Ciência e Tecnologia e o PSDB, Daniela Maia no Turismo; O PDT também participa do governo com Everton Gomes, na pasta de Trabalho e Renda e do União Brasil, foi escolhido Patrick Corrêa que assumiu a Habitação. Para finalizar, Daniela Santa Cruz, estará à frente da Fundação Cidade das Artes. Ela é esposa de Felipe Santa Cruz, apoiado por Eduardo Paes a Governador nas últimas eleições, mas a candidatura não decolou e a solução foi apoiar Rodrigo Neves (PDT).

Em se tratando de PT com todas suas correntes e caciques, muitos acham que ainda é muito pouco o que o prefeito ofereceu, dado a representatividade do presidente Lula e a força do partido com toda sua militância. Esse início de composição gera dúvidas e incomoda alguns setores. Existem aqueles que questionam se Eduardo Paes, não criará mecanismos para que o PT fique refém da administração municipal. As intenções não confirmadas de que o prefeito tem a intenção de lançar Pedro Paulo como seuvice prefeito pode ser o primeiro entrave da composição. Pedro Paulo continua sendo um nome de preferência apenas de Eduardo Paes, mas permanece muito rejeitado por diversos setores da politica e por uma parcela considerável da sociedade


Rejeitados, porém contemplados

O apoio de César Maia não foi o suficiente para eleger Daniela Maia. Calero ex-ministro de Temer também não conseguiu se eleger. Já Pedro Paulo, sempre prestigiado por Paes, pode ser o primeiro entrave na composição politica criada no Municipio


A rejeição aos políticos decorre por diversas formas: uma delas é quando se abre uma brecha para se colocar no quadro de funcionários alguém que foi derrotado nas urnas. Os mais críticos acham essas nomeações puro favorecimento e um verdadeiro cabide de empregos. Na concepção dessas pessoas, esse é exatamente o caso de Marcelo Calero e Daniela Maia que concorreram nas últimas eleições e não conseguiram se eleger.

Calero foi ex-ministro do presidente Temer e já foi seu secretário de cultura do próprio Paes. Nas últimas eleições, obteve 47. 394 e não passou no vestibular das urnas. A história de Dani Maia não é diferente. Ela é ex- presidente da Riotur e filha do vereador e ex-prefeito César Maia, e, consequentemente, irmã do ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia. Apesar do prestígio do pai e do apoio de diversos caciques, obteve minguados 21.913 e também não conseguiu um cargo na Câmara dos Deputados, em Brasília. Dirá o prefeito, seus seguidores e simpatizantes: “Isso é bobagem!!! – São pessoas competentes. Nada a ver"...

Tem a ver, sim, Exmo. Sr. prefeito. Se a sociedade quisesse Dani Maia e Marcelo Calero como seus representantes eles teriam sido eleitos, mas não foi o que aconteceu. Se são competentes não dá para avaliar. São pessoas com boa formação e devem ter sido convidados e nomeados por meritocracia, o que é um critério vago para uma indicação política, pois não se mede virtude, competência, caráter, ou ficha criminal por mérito. A politica tem provado, que na maioria dos casos, se trata apenas, de apadrinhamento, favorecimento ou troca de favores.

O caso de Dani Maia é mais complicado, pois todos sabem que ela é filha de César Maia, ex-prefeito que foi padrinho político de Eduardo. Pode parecer troca de favores. Ou pior: pode parecer, uma ação, entre amigos onde os nomeados serão colocados na vitrine da prefeitura para permanecerem em evidência e concorrer a uma próxima eleição. Por tudo isso, antes de comprarmos o discurso de negação à politica, temos que refletir se o que não estamos vivendo é uma negação aos politicos.

1 Comment


flavioabreu68
Feb 14, 2023

Ótimo. Parabéns Virgílio. Ele rejeitou a política também ao apoiar o golpe contra Dilma e depois apoiar Bolsonaro

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