Santa Teresa faz ato de repúdio contra Rodrigo Amorim
- Virgilio Virgílio de Souza
- 24 de out. de 2021
- 6 min de leitura
Moradores tripudiam do deputado e fazem uma bela homenagem a Marielle Franco
Dezenas de moradores estiveram no Largo do Guimarães, um dos pontos mais movimentados de Santa Teresa, neste sábado (23), para um ato de desagravo contra o deputado Rodrigo Amorim. O parlamentar que ficou conhecido por quebrar a placa da vereadora Marielle Franco em 2018, esteve no bairro no último sábado, dia 16 ao lado do governador Cláudio Castro para o lançamento do "Programa Bairro Seguro" e acabou sendo xingado de miliciano e assassino por muito muitos moradores. O fato ganhou as redes sociais e causou grande repercussão.
Dezenas de moradores foram ao Largo do Guimarães homenagear Marielle e criticar Rodrigo Amorim
A bronca dos moradores com Amorim se iniciou no início de outubro, quando numa postagem infeliz nas redes sociais o parlamentar afirmou que estava conversando com o governador para que o "Programa Bairro Seguro” fosse implementado em Santa Teresa. Foi o suficiente para também nas redes sociais ser desmentido, chamado de cínico, miliciano e oportunista por tentar se apropriar de um projeto que há pelo menos três meses já havia sido anunciado pelo Coronel Ludigero da Policia Militar.
Para piorar a situação Amorim concedeu entrevistas aos meios de comunicação afirmando que Santa Teresa não prospera porque esquerdistas e maconheiros se colocam contrários à segurança no bairro. Suas declarações geraram ainda mais indignação e revolta nos moradores. Na manifestação deste sábado, além de lideranças, moradores de várias partes do bairro e instituições representativas do bairro, estiveram presentes os vereadores Chico Alencar e Mônica Benício, os deputados Waldeck Carneiro, Mônica Francisco e Renata Souza.
Rodrigo Amorim que quebrou a placa de Marielle em 2018, tentou se promover dando entender que o programa era uma iniciativa de seu mandato
A vereadora Monica Benício falou da distância que separa as ideias conservadoras e autoritárias do deputado Rodrigo Amorim e de todos o que ele representa com as ideias progressistas de Marielle: “Nos diferenciamos muito e totalmente. Os heróis dele e de todos que ele representa, são nossos torturadores. Não dá para aceitar essa gente dentre nós, pois eles representam o pior retrocesso que este pais teve” – comentou. Já a deputada Mônica Francisco o desejo dessas pessoas agora, é matar também as ideias de Marielle e tudo o que ela representa:
- Querem matar a memória de Marielle que sempre defendeu um pais mais justo, com menos desigualdades, onde as mulheres e negros e toda forma de diversidade fossem respeitadas. Não conseguirão atingir esse objetivo. pois Marielle não é mais uma vereadora, não é mais uma politica carioca era uma pessoas que animava e incentivava a todos, e em razão disso, se transformou num símbolo de resistência contra tudo que se opõe à liberdade.
O vereador Chico Alencar (PSOL) que é morador do bairro, se disse muito preocupado com as movimentações que estão acontecendo no bairro e afirmou que mais que nunca é preciso os moradores se juntarem contra as ameaças que começam a surgir::
- Precisamos ficar atentos, pois ao que parece, querem acabar com o tudo em Santa Teresa. O fato de pessoas estranhas ao bairro estarem se aproximado e esse deputado querer se apropriar de um projeto para levar vantagens é preocupante. Tudo que estão fazendo é uma politica rasa, é pura politicagem barata e esse projeto faz parte dessa politica. Esse deputado que quebrou a placa de Marielle é a face dessa politica. Ele fazem tudo que Marielle não fazia, pois ela discutia com a comunidade, procurava saber as necessidades dos moradores e não apresentava projetos prontos – comentou
Ninguém é contra a segurança
As acusações de que uma “esquerda maconheira” se opõe a segurança no bairro não procede. Uma coisa esta clara entre os moradores e as principais lideranças do bairro, dentre elas, a presidente da AME-Santa - Associação de Moradores e Empresários de Santa Teresa -Lili Cajaeger e do Presidente da AMAST – Associação de Moradores de Santa Teresa -, Paulo Saad: Ninguém é contrário à segurança. O que todos desejavam desde o início era saber como funciona exatamente o programa denominado “Bairro Seguro” e de que maneira os moradores e comerciantes poderiam colaborar para que o projeto tivesse ainda mais sucesso.
A presidente da AME- Santa Lili ... entende que algumas pessoas estão deturpando os fatos para confundir as pessoas e com isso acabarem dizendo que os moradores não querem que haja um programa de segurança no bairro:
- Ninguém é contrário à segurança ou que o Estado faça programas que busquem melhorar a qualidade de vida no bairro. O que não queremos é que políticos oportunistas caiam de paraquedas e queiram se aproveitar de um programa do do governo, essas atitudes sim, repudiamos. Se houve um erro neste programa, foi o fato de nossas autoridades não terem apresentado e discutido com os moradores e com os comerciantes a ideia. Certamente poderíamos colaborar muito, mas nós da AME-Santa estamos agendando uma reunião com os responsáveis pela segurança do bairro para discutirmos o assunto.
Paulo Saad da AMAST e Lili Cajaeger do AME-Santa criticam a insinuação de que o bairro não quer segurança
Sem levar em consideração ou dar credibilidade às atitudes de Rodrigo Amorim, outro que acha que faltou dialogo com a comunidade é o presidente da AMAST Paulo Saad. Em sua opinião outras experiências na área de segurança no bairro já foram feitas e sem a participação dos moradores essas experiências não foram felizes:
- Santa Teresa é um bairro com características próprias e bem peculiares, pois as pessoas se conhecem, trocam ideias e discutem o bairro. A maior evidência do fato, foi esse deputado que tentou insinuar e, com isso, tirar vantagens deixando entender que seria o responsável pela inciativa e foi logo desmentido e recebeu o repúdio dos moradores. Quanto ao Programa “Projeto Bairro Seguro”, não podemos criticar ou elogiar, pois não temos as informações necessárias que nos possibilite fazer qualquer avaliação do programa. Continuo achando que o ideal seria os moradores terem participado da elaboração do programa, pois conhecemos bem a realidade do bairro, seus muitos problemas e poderíamos colaborar em muito. Vamos ter uma reunião com o governador para discutirmos a retomada da obra dos bondes e abordaremos essa questão da segurança.
Milícia e exploração imobiliária
Por ser um bairro de intelectuais, artistas com muitas pessoas atentas aos acontecimentos Santa Teresa vive há pelo menos seis meses, a paranoia da chegada de grupos milicianos. São frequentes os comentários no bairro de que empresários da exploração imobiliária teriam se aproximado de políticos para adquirir casarões antigos para comprá-los e transformá-los em construções modernas que dariam lugar a bares, restaurantes, hotéis e academias.
A preocupação dos moradores com a chegada dos denominados "Barões da exploração imobiliária" é com a maneira que procuram agir. Por um lado se aproximaram de políticos inescrupulosos para demonstrarem prestígio, e por outro, para demonstrar força, se aproximam de milicianos que passam a circular no bairro e realizam um trabalho de ameaças e intimidações aos moradores.
No bairro, já não é novidade para ninguém que alguns políticos, inclusive da Câmara dos vereadores e da base de apoio do prefeito Eduardo Paes se aproximaram de Santa Teresa nos últimos meses. O temor é que o objetivo seja exatamente o de abrir as portas para a exploração imobiliária. Um morador que por ter medo prefere não se identificar afirmou que os milicianos já estão atuando livremente em algumas áreas de Santa Teresa:
- Tá na cara de todo mundo que a milícia com o apoio de políticos que atendem aos interesses da exploração imobiliária já chegou ao bairro, mas esse é um fato que as pessoas por medo preferem se omitir e não denunciar. Não faz muito tempo tentaram invadir o Quarto Centenário – hospital abandonado no bairro. Quem se interessaria por um prédio daquele tamanho se não os empresários da exploração imobiliária. Soube também que não estão medindo esforços para comprarem o Mercado das Pulgas, no Largo do Guimarães que seria transformados em um mini shopping. Só quem não quer não vê que a milícia já chegou ao bairros pelas mãos dos de alguns políticos e de investidores do mercado imobiliário. Já existem trechos no bairro os moradores são obrigados a pagar pelo uso da internet e em outras partes milicianos promovem festas para realizarem a venda de drogas. A melhor maneira de um empresário da exploração imobiliária estender seus domínios é através de políticos, pois ficaria muito escancarado qualquer ligação desses empresários com os milicianos - afirmou
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