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Virgilio Virgílio de Souza

Moradores na luta contra a "lapanização"

Projeto do prefeito possibilita a transformação de mansões, casarões com arquitetura antiga serem modificados e transformados em bares, casas de shows, academias. Para muitos um desejo de gentrificação e um exemplo claro do que acontece hoje com a Lapa


“Lapanizar” é sinônimo de bagunça generalizada: mesas e cadeiras espalhadas pelas calçadas, casas de shows com som alto invadindo as madrugadas sem deixar ninguém dormir, trânsito totalmente caótico, pontos de táxi existindo de forma irregular, pessoas dormindo pelas ruas embaixo de marquises e monumentos históricos e muitos pedintes. “Lapanização” é o sinônimo perfeito de “gentrificação”. É a sociedade tendo que se adaptar e digerir o caos, o “novo normal”.

Nas peças publicitárias para turistas a Lapa um dos bairros mais atraentes da cidade a Lapa é perfeita, mas por falta de cuidado e zelo da prefeitura a realidade é outra

Se a prefeitura pelo menos fizesse sua parte, muitos desses problemas não existiriam ou estariam resolvidos, mas não é o caso. A prefeitura e seus vários órgãos, todos pagos com dinheiro público, fazem cara de paisagem, passam pano e as mazelas se acentuam. A Guarda Municipal que é responsável pelo ordenamento urbano e deveria coibir o som alto, age de maneira totalmente indiferente como se o problema não existisse. Os órgãos de fiscalizações passam fingem que não veem o amontoado de mesas e cadeiras espalhadas pelas calçadas e o lixo das casas que deveriam ser feito por empresas particulares é feito pela Comlurb - Companhia Municipal de Limpeza Urbana.


É exatamente para evitar esse quadro de “lapanização” que os moradores de Santa Teresa e outros bairros se insurgem contra o Projeto de Lei Completar (PLC 136), de autoria do poder executivo - leia-se Eduardo Paes -, que prevê alterações substanciais no uso de ocupação de imóveis tombados, preservados e localizados em áreas unifamiliares. As mudanças possibilitam que velhos casarões e unidades residenciais sejam transformados em espaços comerciais, o que representa mais gente, mais lixo, mais barulho e mais mesas e cadeiras nas calçadas.

Na Lapa, uma área que teve casarões transformados para fins comerciais, a omissão da prefeitura permite que os proprietários de restaurantes e casas de show, assim como ambulantes ocupem todas as calçadas, façam muito barulho pela madrugada e deixem muito lixo por todas as calçadas


A votação do Projeto deveria ter acontecido na Câmara dos Vereadores, na última quinta-feira, mas foi adiado atendendo a um pedido do vereador Atila Nunes, líder do governo na Câmara e deverá ocorrer nesta terça-feira, dia 21. A iniciativa que é polêmica e desagrada tanto aos moradores quanto parte do parlamentares foi exaustivamente discutido pelos vereadores no início da sessão da última quinta-feira e recebeu 103 emendas, algumas delas ainda estão sendo discutidas.

Apesar do esforço, de tentar encontrar uma solução para que as mudanças não sejam tão prejudiciais à cidade, os vereadores começam enfrentar outro tipo de problema: sofrem pressão de seus eleitores que não desejam que as mudanças sejam tão prejudiciais e agrida tanto a cidade. Muitos que pertencem à base aliada do prefeito e votam tudo que o prefeito deseja, sabem que desagradar os eleitores pode representar um tiro no pé em futuras eleições.

Os Arcos da Lapa sujo, abandonado, sujo e mal conservado é um cenário perfeito para a atuação de Ongs e igrejas. Se a prefeitura não assume suas responsabilidades, transformar residências em prédios comerciais definitivamente não é a solução

Um dos pontos que estão sendo discutidos é exatamente a retirada do bairro da Urca do projeto. A iniciativa vem através de uma emenda do vereador Carlos Caiado (DEM), presidente da Casa. Pelos comentários nos corredores da Câmara a proposta deverá ser aprovada. Independentemente de a Urca ser ou não retirada, representantes de Associações de Moradores da Zona Sul e de outros bairros durante toda semana passaram a procurar e pressionar os vereadores tentando fazer que não só a Urca, mas outros bairros com características residenciais – Jardim Botânico, Gávea, Alto da Boa Vista, Santa Teresa, São Cristóvão e Paquetá, fiquem de fora do PLC.


Um projeto que não respeita a cidade

Ao saber da proposta e da votação os moradores de Santa Teresa que já estão numa luta intensa com o governo Cláudio Castro que pretende privatizar o de Sistema de Bondes, se organizaram através das redes sociais e fizeram contato com outras associações de moradores e passaram a pressionar os vereadores. A indignação maior é pelo fato de Santa Teresa ser uma APA - Área de Proteção Ambiental -, mesma condição da Urca, Leblon e Jardim Botânico. Os moradores da Urca largaram na frente, pressionaram presidente da Câmara dos Vereadores Carlos Caiado e ao que tudo indica, vão conseguir que o bairro seja excluído. Não querem que o bairro passe por esse processo de gentrificação e perturbe a paz existente.

O pior que além de atingir as APAS, o PL 136 possibilita a reconversão, de imóveis tombados, preservados que estão localizados em áreas atualmente restritas a residências unifamiliares. Com isso, podem ser alteradas as destinações de mansões e antigos casarões no Alto da Boa Vista. Joá, São Cristóvão, Paquetá. Se para alguns e, principalmente, os defensores da ideia, essa pode ser a salvação para imóveis hoje em total estado abandono, para outros, o projeto escancara de vez a exploração imobiliária. Entendem que essas edificações, parte importante de nossa história e de nossa arquitetura, seriam sutilmente e lentamente transformadas e readaptadas para casas de shows, bares, restaurantes, academias e hotéis.


A preocupação com a exploração imobiliária é decorrente do fato de empresários ricos e grandes imobiliárias terem se tornado agressivos e passado a adquirir casarões abandonados no Centro, Santa Teresa e outros bairros. Silenciosamente compram reformam e readaptam esses casarões para fins comerciais para poder vendê-los ou alugá-los. O que poderia ser a salvação e a modernização da cidade, se transformou na verdade, num processo de gentrificação que expulsa ou incomoda aos moradores.


Se pelo menos a prefeitura tivesse o mínimo de respeito e consideração para com os moradores o projeto até poderia ter uma maior aceitação, mas não é o caso. Vem de longe, as acusações contra a administração do prefeito Eduardo Paes que, em 2015, foi acusado de beneficiar empreiteiras e remover pobres de algumas áreas da cidade, muito especialmente da Vila Autódromo. Com esse projeto, para muitos, o que se pretende agora, é uma remoção disfarçada de modernização que, ao que tudo indica, permanece sendo o desejo do prefeito que insiste em gentrificar, de vender cada metro quadrado da cidade sem nenhum respeito para com a sociedade carioca.

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