Um belo ato, um tiro no pé...
Se tu falas muitas palavras sutis
Se gostas de senhas, sussurros, ardis
A lei tem ouvidos pra te delatar
Nas pedras do teu próprio lar
Chico Buarque
Bolsonaro e bolsonaristas mostraram com a manifestação que realizaram na Avenida Paulista, nesse domingo, 25 de fevereiro, que se viver em democracia é possível. O ato era pelo Estado Democrático de Direito e não deixou qualquer margem de dúvidas de que vivemos num Estado Democrático de Direito. Ficou claro, absolutamente claro, que é possível, tomar as ruas e se manifestar pacificamente. Por outro lado, esses “cidadãos do bem” defensores da “Pátria, Família e Liberdade” deram um tiro no pé e muita munição aos nossos togados Ministros do STF e, muito especialmente, a Alexandre de Moraes (vulgo Xandão) de que eles estão absolutamente certos nas decisões que tomaram até aqui. O raciocínio é simples: se podem viver em paz, porque escolheram a guerra?
O que os bolsonaristas fizeram foi provar que é possível se vestir de verde amarelo, cantar, orar, sorrir e realizar um ato organizado, pacifico e ordeiro. O que aconteceu na Manifestação foi completamente diferente do que o Brasil assistiu incrédulo e perplexo no período eleitoral, com acampamentos ameaçadores de frente aos quartéis, simpatizantes ameaçando explodir aeroportos, estradas interditadas. Não, aquilo não era um movimento desvairado, cheio de pessoas inocentes. Era algo pensado, organizado, muito bem articulado que teve seu desfecho em 08 de janeiro de 2023 quando o Brasil e o mundo assistiram horrorizados a invasão dos três poderes, um quebra-quebra generalizado e a ameaça exatamente de se quebrar o Estado Democrático de Direito.
A esquerda, o Lula-petismo, os comunistas, marxistas, e os que se dizem de vanguarda, podem até não concordar e criticar os conceitos que norteavam e norteiam essas pessoas. Muitos acham "nonsense" a filosofia de Olavo de Carvalho (que Deus o tenha), ridicularizam a imaginação fértil da ex-Ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos Damares Alves, que subiu com Jesus na goiabeira, riem e caçoam ainda hoje da ideia de que a terra é plana, achincalham os que insinuam que quem toma vacina contra a COVID se transformaria em jacaré e, se irritam com a maldade do débil, perverso e insano ministro Ricardo Salles do meio ambiente que, no mesmo instante que os Yanomamis eram dizimados sugeriu “que enquanto a imprensa e a sociedade estavam preocupadas com a COVID era preciso passar a boiada”.
A esquerda pode até espernear, rir e ridicularizar tais pensamentos e comportamentos, mas ninguém é obrigado a pensar da mesma forma, e isso faz a beleza da democracia.
Contudo, na democracia, “não se pode jogar fora das quatro linhas”, como não se cansava de falar Bolsonaro. O ex-presidente estava certo, pois se alguém, “pisa na bola” se achando acima da lei, o problema passa a ser do STF. Invadir o congresso, chamar ministros do STF de canalhas, calhordas, interferir na Polícia Federal, criar fake News, impossibilitar que eleitores de um partido possam votar, como aconteceu no Nordeste, num verdadeiro vale tudo, inclusive invadir e quebrar os três poderes acreditando numa total impunidade, aí já é demais. Isso é crime, e crime tem que ser punido.
Se vives nas sombras,
frequentas porões
Se tramas assaltos ou revoluções
A lei te procura amanhã de manhã
Com seu faro de doberman
Chico Buarque
Somos um Estado laico, com 26 estados, 205 milhões de habitantes e um dos mais plurais do mundo. A maioria dos brasileiros ama, curte e se orgulha de ter nascido aqui. Definitivamente, isso aqui não é uma Casa da Mãe Joana ou uma terra de ninguém, e quando alguém quer se impor na base de artimanhas ou pela força, resta se valer dos princípios constitucionais. Os ministros não aplicam penas ou deliberam coisas de suas cabeças, mas sim baseiam suas decisões em artigos da Constituição ou “Carta Magna” para os desavisados.
Obviamente que na manifestação da Avenida Paulista aconteceram frases, soltas, desconectadas da realidade e desproporcionais, mas isso podemos atribuir ao calor do momento, nada de grave ou que possa ser motivos de se incriminar quem quer que seja. Quem destoou mais uma vez, foi o empresário da fé Silas Malafaia, mentor e financiador do ato. Aliás, Malafaia já vem destoando há algum tempo. Existem aqueles que acreditam que o pastor neopentecostal era o mais interessado no sucesso do ato. Corre a boca pequena, que o homem tem o rabo preso com tudo que aconteceu em 8 de janeiro. Se ficar provado que ele financiou ou incentivou, ele se fará de vítima e, com cara de bom samaritano, dirá que passou a ser perseguido por ser o mentor da manifestação.
Pura bobagem, pois a Polícia Federal está atenta a tudo e a todos: samaritanos, milicos, gregos empresários, políticos e troianos e em todos que de alguma maneira participaram da tentativa de Golpe. Se ficar provado que Malafaia teve envolvimento em toda aquela baderna... Lascou. Toc Toc Toc... vai ter que pegar sua bíblia, e levar para o fundo do xilindró e orar com a amiga Flor de Lis ou com o “parça” Daniel Silveira. É preciso ficar atento a Silas, a toda essa gente, pois, ao que parece, o desejo é criar um Estado Democrático da Direita.
Por falar em pastores, existe algo de errado com pessoas que se dizem cristãs, professam as palavras de Cristo e apoiam não exatamente os judeus, mas a prática sionista que, nesse momento, mostra toda a garra de sua atrocidade exterminando o povo palestino. Esses “falsos pastores” e esse rebanho desinformado, simpatizantes do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e, portando bandeiras de Israel, parece ignorar que Jesus vivia nas quebradas do lado de lá, exatamente na “Faixa de Gaza”. Seguramente, se estivesse vivo, estaria, a exemplo de milhões de palestinos, sem comida, água, casa, tendo que se deslocar como um louco de um lado para outro, com bombas caindo sobre sua cabeça. Fala sério, aquilo virou um campo de concentração a céu aberto.
A cegueira desse movimento pró sionismo é se esquecer ou preferir não se lembrar de que o Brasil, por ser um Estado laico, não é regido pela Bíblia e muito menos pelo velho testamento, um campo fértil para as mais variadas interpretações em benefício próprio. Deus, de sua infinita sabedoria e bondade, nos concedeu direito ao livre arbítrio e, com isso, nos possibilitou criar uma Constituição Soberana. Exatamente isso, O Brasil, gostem ou não, é regido por uma Constituição e, por isso, exatamente por isso, nossos diletos ministros do STF estão corretíssimos em punir os pecados e não ao pecador. Mandar prender esse bando de arruaceiros, quebradores do patrimônio público que, obedecendo a faces e vozes poderosas, é um dever. Se achavam protegidos e acima da lei e acreditavam que podiam fazer o que bem entendessem. A PF já identificou os peixes miúdos e vai chegando aos graúdos. O STF faz cumprir a Constituição. Cadeia neles, simples assim.
Na Avenida paulista, o ex-presidente talvez não pensando em seus seguidores, mas em salvar a própria pele, e tirar o seu da reta, pediu anistia a essa horda de bandidos malfeitores. Não, Sr. capitão, pois se anistiar, os ministros estarão contrariando seu próprio ensinamento “de que não se pode jogar fora das quatro linhas”. Por outro lado, pecariam se não praticassem justiça, pois estariam contrariando os ensinamentos do próprio Cristo. Tá lá em 1 João 3:10; “Nisso são manifestos os filhos de Deus, e os filhos do Diabo. Qualquer um que não pratica a justiça, e não ama seu irmão, não é de Deus”.
Quebrar patrimônio público, colocar bombas, pedir para o exército dar um golpe, arquitetar um golpe, financiar um golpe, fazer minutas secretas para consolidar um golpe não é amar e nem respeitar o irmão, a democracia, e o tão badalado Estado de Direito que se transformou em expressão da moda. Em síntese: o que fizeram não é coisa de Deus. Logo, meu caro, anistia de golpista é trolha. Para que atos como ocorreram não se repitam, cadeia nos golpistas. Sem anistia.
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