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Um tiro pela Culatra...


Da Tribuna da Câmara, Gabriel Monteiro alegou inocência, criticou a Rede Globo, expôs seus colegas de parlamentos, mas não convenceu e teve o mandato cassado


Exatamente como previsto

Aconteceu exatamente como se imaginava: foi uma sessão longa - se iniciou às 16h e só terminou às 22h21 -, nas galerias muitos cartazes e faixas com uma ala pró e outra contrária ao acusado. De um lado, um coro entoava " Gabriel Monteiro, Guerreiro Brasileiro" , do outro: “estuprador não pode ser vereador”.

Nesse contexto de provocações e nervos acirrados, a esperança de Monteiro era a de que 16 vereadores não comparecem ou se abstivessem, pois dos 51 vereadores se 34 votos fossem favoráveis ele seria cassado. Às 16h sua primeira angústia; haviam 42 vereadores presentes e havia quórum para se iniciar a sessão e para que a votação fosse realizada.

O presidente da Câmara Carlos Caiado acompanhou a leitura do Relatório Final da Comissão de Ética pelo relator Chico Alencar com as galerias completamente lotadas


Inicialmente o vereador Chico Alencar leu partes do Relatório aprovado por unanimidade pelo Conselho de Ética que tinha como principais trechos pontos gravação do parlamentar tendo uma relação sexual com uma adolescente de 15 anos e a agressão a um morador de rua numa gravação feita de vídeo para canal no YouTube. No final aconteceu o previsto: Gabriel Monteiro estava cassado por 48 votos favoráveis e dois contrários – além do próprio voto ele foi acompanhado por Chagas Bola (União Brasil).

Pouco antes da votação final, Gabriel subiu à Tribuna da Câmara para se defender, usou ar de humildade e todos os argumentos que dispunha. Admitiu seus vacilos, mas fez questão de se declarar inocente nas causações às quais lhe eram imputadas:

– Posso ter errado muito na vida, confesso que tenho muito a aprender. Mas não sou corrupto, ladrão. Venho aqui pedir uma segunda oportunidade para mostrar que posso ser honrado e digno. Quero estar aqui para defender a população carioca. Eu não fiz por mal qualquer tipo de ofensa. Lembro o seguinte: não estou falando de estupro, de assédio. Tirar meu mandado será arranhar minha honra e minha moral. Por mais que seja estranho se auto elogiar, eu acho que sou uma pessoa do bem. Talvez decretar minha morte política não seja bom para os senhores e para o Rio de Janeiro e finalizando: “Hoje é a minha cabeça, amanhã é a dos senhores" - afirmou.


Um tiro pela culatra

Gabriel Monteiro sabia que a decisão pela cassação de seu mandato já estava decidida e não se basearia naquela sessão. Os vereadores haviam lido o robusto relatório, muito bem fundamentado pelo relator Chico Alencar e aprovado por unanimidade pela Comissão de Ética.

Sua cartada final foi expor seus colegas de parlamento tentando deixar entender que ética, moral eram questões relativas numa casa em que muitos já foram acusados ou denunciados. De forma sutil, insistiu na argumentação que a Globo direciona e escolhe seus alvos, afirmando que todos os males que acontecem com os vereadores partem do canal de televisão que dá um grande espaço quando acusa, insinua, e “detona” uma pessoa, mas quando fica provada a inocência da pessoa, o espaço é o mínimo ou, simplesmente inexiste.

Foi nesse momento, nessa cartada final, que Gabriel Monteiro parece ter se queimado de vez, criando um certo constrangimento em seus colegas. Nomeando cada um deles, e olhando em suas direções na base do olho no olho, decidiu citar alguns desses parlamentares que tiveram problemas com a justiça, deixando-os totalmente expostos:

Gabriel partindo do principio que a ética e relativa, foi imprudente e expôs seus colegas de parlamento que já sofreram algum tipo de denúncia ou foram citados em alguma acusação ou levaram vantagem em alguma situação. Willian de Freitas, Alexandre Isquierdo e Dr. Gilberto foram alguns dos alvos


- Vocês me condenarem será o mesmo que se transformarem em reféns da Rede Globo. O vereador Dr. Gilberto, por exemplo, foi condenado pela emissora, mas quando saiu da prisão não teve o mesmo espaço. (Dr. Gilberto foi preso em agosto de 2017, acusado chefiar um esquema criminoso que cobrava para a liberação de corpos depois da necropsia. Em novembro de 2018 ele conseguiu suspensão das medidas cautelares que vinha cumprindo e retomou seu mandato

A tentativa de constrangimento não parou por aí: falou do vereador William Coelho que no início deste mês de agosto, após escutas telefônicas e investigações da Polícia Civil e do Ministério Público, foi acusado de envolvimento com uma quadrilha de roubo de cargas onde se negociava, inclusive, a venda de trilhos do metrô. O pai do vereador chegou a ser preso ao ser encontrado com uma pistola com numeração raspada. Outro citado foi o vereador Marcelo Arar (PTB). Ele foi acusado, em abril desse ano, de um esquema de corrupção praticados no âmbito da extinta Subsecretária de Vigilância Sanitária da Cidade do Rio de Janeiro, no final de 2017 e início de 2018, na gestão do ex-prefeito Marcelo Crivella. O MP apura se o vereador teria intermediado o esquema para que normas sanitárias não fossem cumpridas.

Expulso da polícia e com o mandato cassado Gabriel com muitos seguidores deverá voltar a atuar como youtuber e, se a justiça deixar, concorrer ao cargo de deputado federal


Tentando mostrar a influência e o poder da Globo Monteiro chegou a apelar ao falar de corrupção e favorecimento e olhou fixamente para Alexandre Isquierdo, presidente da Comissão de Ética da casa. Entre os nomes da lista do Ceperj consta Daniel Isquierdo irmão mais novo de Alexandre. Entre fevereiro e julho desse ano, Daniel teria recebido seis pagamentos do CEPERJ. Outro citado foi o ex-secretário de estadual de Educação Pedro Fernandes, filho da vereadora Rosa Fernandes, preso em setembro de 2020 na denominada Operação Catarata, por supostos desvios encontrados em contratos de assistência social. Ele foi solto um mês depois.

A cada nome que citava havia um certo ar de preocupação; quem seria o próximo? A cartada de Monteiro não conseguiu sensibilizar, pois os votos já estavam decididos. Uma decisão difícil para o parlamento carioca que se vê obrigado a cassar o segundo vereador – o outro foi Dr. Jairinho -, em menos de um ano.

Já nessa sexta-feira (19) com a cassação de Gabriel Monteiro O gabinete não pôde funcionar, seu suplente Matheus Floriano será convocado, na segunda-feira e na terça tomará posse - informou o presidente da Câmara Carlo Caiado





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