Vereador precisa de 7 votos para evitar a cassação

Os integrantes da Comissão de Ética ficaram intrigados com o "desaparecimento" de Gabriel Monteiro que não apareceu para receber a notificação

O sumiço do vereador Gabriel Monteiro na tarde da última terça-feira (19), não foi casual, muito ao contrário, foi providencialmente estratégico. Ao não dar as caras — embora tivesse participado normalmente da seção virtual — o parlamentar impossibilitou que o relator Chico Alencar (PSOL) ou procurador da Câmara José Luiz Minc lhe entregasse a representação que lhe dá dez dias para se defender. Com isso, retardou o processo ganhando um precioso tempo. Nos corredores e gabinetes se iniciou uma sinistra tramoia de bolsonaristas e falsos moralistas que se articulavam tentando de todas as formas somarem 18 votos para livrá-lo da degola.

Para que Gabriel seja cassado é preciso que dos 51 vereadores, 34 votem pelo seu afastamento. Por outro lado, se 18 vereadores votarem a seu favor ou se abstiverem ele se livra. O saldo acabou sendo altamente positivo para Gabriel, pois, apesar do pouco tempo de manobra, ele conseguiu 11 votos — contando abstenções. O parlamentar e seus escudeiros, precisam agora, conseguir outros 7 votos que garantiriam sua permanência no Palácio Pedro Ernesto.

Caso o Conselho de Ética e o procurador Minc não encontrem o vereador até a próxima segunda-feira (25), então a denúncia será publicada no Diário Oficial. A ausência de Monteiro causou decepção aos vereadores e frustração nos jornalistas que davam plantão na Casa. Chico Alencar lamentou a postura de colega: "Ele está no mínimo sendo negligente em relação ao processo. Tomo como uma atitude de desprezo em relação ao procedimento legal do Conselho de Ética e, obviamente, isso não soma para sua defesa" — comentou. Um vereador próximo a Gabriel disse que com as novas movimentações tudo se transformou numa incógnita:

— Diria que a situação do Gabriel era insustentável, mas pela movimentação que vi, diria ser agora delicada. Acho difícil que consiga os 18 votos que garantiriam sua permanência, mas já não digo que seja impossível conseguir um quórum favorável. Nesse momento as abstenções começam a ser um forte aliado, em última análise, abster é não tomar partido. — afirmou.

Popular nas redes sociais com imagens de efeito, Monteiro espera ter o apoio de 18 vereadores para se livrar da cassação

Porque Gabriel pode se livrar

A principal razão para que o vereador Gabriel Monteiro possa se livrar de uma cassação são os “donos dos partidos”. Na conta desses senhores, o parlamentar com seus 23 milhões de seguidores nas redes sociais poderia obter em torno de 400 mil votos caso concorra à Câmara dos Deputados, em Brasília e, seria com isso, um ótimo puxador de votos garantindo pelo menos a eleição de mais dois ou três deputados.

O otimismo desses caciques partidários aumentaram, pois, mesmo as denúncias vários crimes — entre eles, filmar cenas de sexo com uma adolescente de 15 anos, assédio moral e sexual e estrupo — não arranharam seu perfil. Ao contrário, depois das denúncias o dublê de yotuber e vereador viu aumentar seu número de seguidores. Se há algo que incomoda, são as novas denúncias anexadas aos documentos da Comissão de Ética, que dão conta de que existem filmagens de Gabriel acariciando uma menina de apenas 11 anos, o que seria, de fato extremamente constrangedor, mesmo para aqueles que pensam em perdoar o vereador.

Além dos donos dos partidos Gabriel Monteiro tem a seu favor bolsonaristas de carteirinha e falsos moralistas que, no parlamento, ao invés de defenderem projetos de interesse da sociedade, vivem permanentemente defendendo pautas moral e de costumes.

Um tiro no pé

Os que não acreditam que Gabriel Monteiro vá se livrar da cassação acreditam que ele será vítima da Lei 7.037, aprovada na Câmara em 15 de setembro de 2021, de sua própria autoria. A Lei estabelece em seu primeiro artigo o seguinte: “torna-se nula a nomeação, posse ou contratação para cargos, ou empregos públicos de pessoa condenada por crimes de abuso contra menores de idade, desde a condenação até 12 anos após o cumprimento da pena.

Um vereador que diz sentir verdadeira repulsa com as articulações que possam evitar a cassação de Gabriel Monteiro acredita que o vereador deu um tiro no pé. Ficou claro com todas as denúncias que surgiam contra ele que não passa de mais um oportunista, um falso moralista que se vale da política para promoção pessoal:

— Esse rapaz com suas atitudes faz cair em descrédito todo legislativo municipal. Quando criou essa lei talvez ele tenha se inspirado em suas próprias atitudes, mas essa categoria de pessoa sempre julga ser inatingível, que pode tudo e está acima de tudo e de todos. Ele tem o perfil do falso moralista e do “homem de bem”. Faz tudo errado, e quando é descoberto se diz vítima de perseguição e fica choramingando pelos cantos. A Câmara tem uma ótima oportunidade de banir da política gente dessa espécie. Penso que quem o defender tem o mesmo perfil e o mesmo caráter que ele — concluiu.